Uma nova vida a partir da moradia Os voluntários norte-americanos da Ong Habitat acreditam que as oportunidades para qualquer pessoa melhorar de vida começam na própria casa

Publicação: 01/07/2017 03:00

As chuvas do inverno passado danificaram as telhas já gastas da casa da auxiliar de creche Iraneide Narciso, 53 anos, no Alto Santa Terezinha, Zona Norte do Recife. E neste ano as chuvas voltaram a trazer preocupações. A cada vento mais forte o telhado ameaçava ir embora. Na última segunda-feira, 12 voluntários norte-americanos da organização não governamental (Ong) Habitat para a Humanidade começaram a reforma do teto da casa de Iraneide.

“ Quando estávamos em casa, vinha o medo de ficar sem telhado. Se eu estava no trabalho, corria para aparar as goteiras. Agora, só de saber que estamos em um lugar seguro, já é uma bênção”, contou Iraneide. A vulnerabilidade da sua moradia sensibilizou assistentes da Ong, que selecionaram ela e mais outras três famílias do bairro da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, para participar do programa O futuro começa em casa. Além do telhado, o quarto e o banheiro da casa de Iraneide, que antes eram úmidos e no cimento, foram reformados e revestidos em cerâmica.

A coordenadora de mobilização de recursos e voluntariado da Habitat Brasil, Silvia Troncon Rosa, explica que esse programa objetiva oferecer melhores condições de moradia para crianças e adolescentes e, consequentemente, promover o desenvolvimento e maiores chances de um futuro de oportunidades.

“Estamos falando de uma casa onde se dorme, estuda e vive bem. Onde as pessoas ficam menos doentes e as crianças faltam menos na escola. Por isso é nela onde começa o futuro. Para algumas pessoas, tudo isso é normal. Para outras, isso ainda é um sonho”, completa a diretora executiva da Habitat Brasil, Socorro Leite. Em Pernambuco, o programa é executado apenas na Bomba do Hemetério e já beneficiou 65 famílias desde 2013, e mais 38 famílias em situação de vulnerabilidade social na Bahia.

Segundo Silvia Troncon, o principal critério para a reforma das moradias é que nelas habitem crianças ou adolescentes em idade escolar, cujas residências estejam em condições precárias e possam receber melhorias. “Entendemos que se a criança mora melhor, dorme melhor, fica menos doente, tem uma boa frequência escolar e, assim, tem perspectivas de um futuro melhor”, ressalta Silvia. Outros critérios contam para a seleção, como famílias que possuem idosos e ou onde as mulheres exerçam a liderança da casa.

Ainda de acordo com a coordenadora de mobilização de recursos e voluntariado da Habitat Brasil, esse programa tem uma média de duas ações por ano, desde que começou em 2013. Por isso, é possível que outras famílias sejam beneficiadas ainda este ano. “Esse trabalho só é possível graças a doações de empresas ou através da arrecadação de voluntários”, explica Troncon.

Também beneficiada pelo programa, a dona de casa Veridiana Sizino, 53 anos, tem uma mãe de 80 anos que é cadeirante e precisava de mobilidade dentro de casa para utilizar a cadeira de rodas. Elas moram com mais quatro pessoas. “Havia um degrau de três centímetros na entrada do banheiro e todo dia eu tinha que suspender minha mãe na cadeira de rodas e a gente ficava com medo dela cair”, contou Veridiana. “Fizemos demolições, colocamos cerâmicas, pintamos, rebocamos, colocamos argamassa e rejunte. Fazemos tudo que um servente de pedreiro faz. E é muito bom fazer esse tipo de trabalho porque aqui há muita necessidade e é possível melhorar a vida das pessoas com nosso trabalho”, contou a voluntária Angela Townsend, 30 anos, do Arizona (EUA). Segundo ela, a habitação é muito negligenciada no Brasil.