Estado investiga casos de 'Urina preta' Síndrome de Haff, que já teve surto registrado na Bahia, pode ter acometido casal internado no Recife. Secretaria de Saúde foi notificada e abriu apuração

Publicação: 02/08/2017 03:00

A Secretaria Estadual de Saúde está investigando dois casos suspeitos de mialgia aguda, conhecido também como doença da “urina preta”. O órgão recebeu, na manhã de ontem, uma notificação do Real Hospital Português, onde os pacientes - um casal - deram entrada com dor muscular intensa. Uma das possíveis causas da mialgia aguda é a ingestão de peixes contaminados por toxinas. Especialistas afirmam, porém, que outros agentes, como chikungunya, influenza e citomegalovírus, podem causar fortes dores musculares, alteração na produção de enzimas e escurecimento da urina.

Após a notificação feita pelo hospital particular, a Secretaria de Saúde coletou material diagnóstico para encaminhar ao Laboratório Central de Pernambuco (Lacen-PE). O órgão informou que está em contato com o Ministério da Saúde para discutir o caso. “A Secretaria Estadual de Saúde ressalta que, em janeiro deste ano, encaminhou para todas as unidades hospitalares de Pernambuco o informe do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde da Bahia, que registrou casos no fim de dezembro de 2016. Também foi encaminhado um alerta com recomendação aos serviços locais para a notificação e investigação imediata em 24 horas”, pontuou.

Em março deste ano, pesquisas confirmaram que peixes contaminados provocaram a doença da “urina preta” no estado da Bahia, onde foi registrado um surto. Sobre o mal, até então misterioso, os estudos concluíram que se tratava da Síndrome de Haff. Apesar da certeza quanto à natureza da doença, os estudos não revelaram por qual substância os peixes foram intoxicados. Os primeiros casos foram notificados na Bahia em dezembro de 2016. Depois, casos suspeitos chegaram a Fortaleza.

De acordo com a literatura médica, a Síndrome de Haff foi identificada pela primeira vez em 1924, nos Países Bálticos, na Europa. Os sintomas surgiram 24 horas depois do consumo de pescados. Houve registros também na China e nos Estados Unidos. No Brasil, o último surto havia sido registrado em 2008, em Manaus, Amazonas. Na época, 27 pacientes foram diagnosticados com a doença.

Os principais sintomas são dor muscular intensa, acometendo principalmente a região cervical e de trapézio, elevação do nível da enzima creatinofosfoquinase (CPK) e mudança na tonalidade da urina, que varia entre o vermelho escuro e castanho. A recuperação do paciente costuma acontecer de forma rápida. A recomendação médica é que, aos primeiros sintomas, os pacientes procurem uma unidade de saúde e se hidratem bastante.

O infectologista Carlos Britto lembrou que não é só a Síndrome de Haff que causa mialgia aguda e escurecimento da urina. “Recentemente, atendemos, em um hospital particular (do Recife), um jovem que apresentava esses sintomas, ou seja, com forte dor muscular e urina escurecida. A sorologia confirmou dengue como causa, então é preciso considerar outras razões e não apenas a doença de Haff, que, de acordo com a literatura médica, está relacionada ao consumo de peixe de água doce”, explicou. O casal internado no Hospital Português relatou ter consumido peixe arabaiana horas antes de começarem a sentir os primeiros sintomas.

Entenda

Síndrome de Haff

  • É causada pelo consumo de peixes ou crustáceos contaminados por um vírus ou uma toxina
  • A ingestão causa elevação nos níveis da enzima creatina fosfoquinase e gera os sintomas relatados em 24 horas
  • Os principais sintomas são dor muscular intensa, de início súbito, acometendo principalmente a região cervical e de trapézio, além de dores nos braços, dorso, coxa e/ou panturrilha
  • A doença provoca também alterações nas enzimas musculares
  • A recuperação do paciente com a doença de Haff costuma ser rápida
  • Em certos casos, porém, as pessoas podem apresentar fadiga por mais algum tempo