Um inimigo silencioso e implacável Esclerose múltipla pode levar à incapacitação, mas informação ajuda a facilitar o seu controle

ALICE DE SOUZA*
alice.souza@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 19/08/2017 03:00

Buenos aires - Doença silenciosa que vai invadindo aos poucos a rotina até provocar uma situação de incapacidade completa, a esclerose múltipla afeta 2,3 milhões de pessoas no mundo. Os casos são cada vez mais frequentes e há indícios de que haja uma relação disso com os hábitos da vida no século 21. No Brasil, a doença acomete cerca de 15 indivíduos a cada 100 mil. Mais da metade dos nordestinos desconhece a enfermidade, segundo pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pela Roche Farma Brasil.

O levantamento mostra que 70% dos nordestinos se consideram pouco ou nada informados sobre a enfermidade. Muitos têm percepções erradas, como a de que a doença só acomete idosos, é curável e hereditária. O desconhecimento leva a diagnósticos tardios, favorecendo o risco de maiores índices de incapacidade no futuro. Para se ter ideia, três em cada 10 pacientes com esclerose múltipla não são diagnosticados ou são subdiagnosticados.

Não há marcador clínico para a doença, ou seja, um exame que possa detectar a alteração no sistema imunológico que vá desencadear os surtos. Os pacientes devem ficar atentos a sinais como fadiga imprevisível, alterações na voz, dificuldade para engolir e visão dupla ou embaçada. As crises podem acontecer no começo com duração entre 15 dias e dois meses. Depois, é como se a esclerose adormecesse e só voltasse a aparecer seis meses ou até dois anos depois.

“Os pacientes não costumam vincular os primeiros sintomas aos segundos. Os médicos tampouco. Isso faz com que o diagnóstico demore. Ao longo dos anos, à medida em que os surtos aparecem, vai ficando uma incapacidade acumulada”, explicou o chefe do serviço de Neurologia Clínica e diretor da Unidade de Esclerose Múltipla do Hospital Italiano, em Buenos Aires, Edgardo Cristiano, durante o Roche Press Day, realizado no começo de julho na capital argentina.

O diagnóstico da funcionária pública aposentada Maricélia Lima, 60, demorou três décadas para chegar. O primeiro sintoma, em 1977, foi uma cegueira no olho direito que durou dois meses para regredir. “Fui tratada de tudo, menos esclerose. Já fui diagnosticada erradamente com quatro AVCs. Pegava o carro para ir ao trabalho, mas me dava um branco e eu ia parar em Itamaracá. Dizia que não estava normal, mas afirmavam que era preguiça, depressão. Aquilo me incomodava”, lembra. Há quatro anos, Maricélia toma medicação e não vem apresentando crises.

Pressa
Segundo Edgardo Cristiano, a importância do diagnóstico precoce é conseguir intervir a tempo de evitar incapacidade total, já que cada surto pode provocar até 10 lesões no cérebro. “Os medicamentos disponíveis são bem mais eficazes no início da doença, quando não há incapacidade ou há pouca”, acrescenta. Para que o diagnóstico aconteça cedo, também são necessários profissionais capacitados, e há déficit em toda a América Latina. No Brasil, há menos da metade dos neurologistas recomendados a cada 100 mil habitantes pela Organização Mundial da Saúde.

A visão dos nordestinos
  • 51% desconhecem a doença
  • 49% acreditam ser uma doença típica do envelhecimento
  • 42% acham que atinge pessoas com mais de 60 anos
  • 58% acham que é uma doença curável
  • 40% acham que é hereditária
  • 69% acham que o paciente deve parar de trabalhar
  • 57% não sabem qual especialidade médica é adequada para o diagnóstico
Fonte: Roche Farma Brasil e Associação Brasileira de Esclerose Múltipla