Clube das Pás celebra 130 anos de alegria Tradicional instituição de Campo Grande comemorou suas tradições com noite de dança e homenagens que reuniu cerca de mil pessoas em sua sede

Publicação: 20/03/2018 03:00

A segunda-feira amanheceu com festa no imóvel mais conhecido da Rua Odorico Mendes, em Campo Grande. O Clube das Pás chegou, ontem, aos 130 anos, e comemorou o feito junto com um público calculado em mais de mil pessoas. O salão foi tomado por mulheres de vestidos longos e brilhosos e seus companheiros de dança elegantemente vestidos com calças e blusas sociais. O clube, que chegou a correr o risco de fechar as portas por causa de dívidas, parece ter voltado aos melhores tempos. Hoje tem 280 sócios, débitos sanados e festas às segundas, sextas, sábados e domingos. A noite também incluiu homenagens a personalidades do estado, incluindo o presidente do Diario de Pernambuco, Alexandre Rands.

Júlio César Gomes Rodrigues, 59 anos, é baterista da Orquestra das Pás e funcionário mais antigo do clube, onde atua há 23 anos. “Para mim, trabalhar aqui é uma glória. Me sinto honrado. Já vivemos altos e baixos, mas agora está tudo bem”, comemora, posando para foto em frente ao bolo comemorativo de aniversário. Solange de Albuquerque, 59, podóloga, começou a frequentar o clube aos 14 anos. Frequentava com os primos e tios as manhãs de sol da Pás. “Quando fiz 18 anos, comecei a vir sozinha. Aqui vivi muitas histórias de amor, mas o melhor daqui são os amigos. Isso aqui é como uma família”.

Sócios hoje pagam uma mensalidade de R$ 100 (individual) e R$ 150 (casal). Rinaldo Lima, diretor-presidente do Clube das Pás há três anos, destaca que mantém uma relação de amor com o espaço há 35 anos. Depois de uma união de esforços entre vários admiradores das Pás, o clube foi reerguido. “Na época, criamos um condomínio e dividimos o valor dos prejuízos. Deu certo a ponto de climatizarmos o espaço e pagarmos os salários atrasados dos funcionários”, lembra. Segundo Rinaldo, a antiga diretoria tentava manter o clube apenas alugando o prédio para festas. Hoje, além dos sócios, o clube também cobra ingresso de R$ 20 para acesso às festas.

O clube foi fundado dois meses antes da abolição da escravatura no Brasil. Conta a história que o Recife estava em pleno carnaval quando um navio cargueiro inglês atracou no Porto do Recife. Ele precisava ser abastecido de carvão e como não havia gente disponível para o serviço em meio à folia, uma empresa engarregada do abastecimento do cargueiro ofereceu pagamento dobrado aos carvoeiros. Finalizado o trabalho, os trabalhadores colocaram as pás nas costas e foram comemorar. Daí o nome atual do clube. O espaço chegou a funcionar na Boa Vista e há 85 anos está em Campo Grande. O site das Pás conta que a primeira notícia impressa sobre a instituição foi publicada em 4 de março de 1905, no Diario.

“Os bailes dos sábados mantêm a tradição mais que secular de começar com a execução de três frevos. Afinal, o clube nasceu durante o carnaval. Depois é que vêm os ritmos mais dançantes, com destaque para as músicas latinas e os boleros. À meia-noite, um breve intervalo para a tradicional valsa, quando os frequentadores costumam festejar seus aniversários. Depois, o baile continua até às 3h da manhã. Mas há bailes também às sextas-feiras, domingos e segundas-feiras”, diz um texto da página virtual.