DIARIO NOS BAIRROS » Uma revolução através do WhatsApp Grupo Casa Forte Mais Seguro une moradores de cinco bairros e o poder público para combater a criminalidade na região e tornar rotina mais tranquila

Rosália Vasconcelos
rosalia.vasconcelos@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 20/04/2018 09:00

Moradores dos bairros de Casa Forte, Poço da Panela, Apipucos, Santana e Monteiro têm provado que grupos de WhatsApp podem ser uma ferramenta capaz de promover a cidadania e a participação social na resolução de problemas da comunidade. Foi dentro dessa lógica que nasceu em fevereiro de 2017 o Casa Forte Mais Seguro, iniciativa com objetivo de ajudar o poder público a reduzir os índices de violência, através de informações repassadas pelo grupo para as polícias Civil e Militar. Entre os ganhos conseguidos pela população está a diminuição de assaltos e furtos no perímetro de atuação do grupo.

Segundo o empresário da área de tecnologia da informação e mentor da iniciativa, Yves Nogueira, 44 anos, a proposta da ferramenta é de que os moradores desses bairros se tornem agentes ativos na resolução dos problemas da localidade. “Aqui no Brasil, temos o costume de atirar pedra no poder público e delegar a outros a obrigação de resolvê-los. Mas eu particularmente acho que atacar não resolve. Eu queria ir além, queria colaborar de forma efetiva com a questão da segurança pública. E esse foi o caminho que encontrei”, explica Yves, que é residente em Casa Forte há mais de 10 anos.

Para garantir a eficácia da iniciativa, a primeira ação foi integrar os moradores e comerciantes desses cinco bairros, com interesses comuns, e promover reuniões presenciais para que as pessoas pudessem se conhecer, dialogar e fazer um brainstorm do que poderia ser feito. Já formado, o grupo atraiu autoridades de segurança pública das esferas municipal e estadual, além de agentes do Executivo municipal.

“Sem as autoridades trabalhando conosco, não conseguiríamos avançar em muitas questões. Também ganhamos agilidade na comunicação com diversos órgãos e na resolução dos problemas com foco na demanda da comunidade. Em troca, o poder público recebe informações e feedback sobre a atuação para que possa aprimorar seu trabalho”, disse Nogueira. Hoje, o WhatsApp do Casa Forte Mais Seguro já possui 200 integrantes.

Segundo o delegado da seccional de Apipucos Thiago Uchoa, que está no grupo desde janeiro, moradores e comerciantes repassam informações de pessoas com atitude suspeita que estejam circulando pelos bairros, veículos de origem duvidosa, assaltos e furtos que aconteceram nas redondezas. “A partir das informações enviadas, conseguimos realizar ações policiais em menos de 24 horas após as ocorrências. Para nós da seccional, que atendemos 32 bairros, se cada área utilizasse uma ferramenta desse tipo, facilitaria bastante o trabalho da polícia. Os integrantes só precisam ter cuidado para não enviar vídeos, imagens e denúncias que não sejam do próprio bairro, para não ter o efeito inverso”, pondera o delegado.  Ele ressalta que a divulgação do crime não dispensa o registro do boletim de ocorrência na delegacia.

A delegada de Casa Amarela, Lidia Barci, que está há dois meses no Casa Forte Mais Seguro e também é residente do bairro, disse que as informações sobre as ocorrências de assaltos e furtos chegam quase de imediato no grupo, o que permite que a Polícia Militar atue no flagrante com mais rapidez. “Esse trabalho tem aumentado também o número de registros de boletins de ocorrência. No que temos acesso às imagens, conseguimos identificar as vítimas, chegar até elas e estimular para que venham até a delegacia registrar o BO, já que muitas pessoas têm medo”, afirma.

Algumas áreas mais vulneráveis, como a Praça de Casa Forte e o entorno do Shopping Plaza Casa Forte, ambas com grande fluxo de movimentação de pedestres, sobretudo pelas atividades comerciais, tiveram reforço de policiamento militar.

A iniciativa deu tão certo que o tenente-coronel do 11º Batalhão da Polícia Militar (BPM) Luciano Nunes, que também participa do Casa Forte Mais Seguro, está replicando o projeto em bairros populares como Sítio dos Pintos, Bola na Rede, Alto do Capitão e Dois Unidos. “Estamos aplicando a mesma dinâmica nesses bairros. Lideranças comunitárias, moradores e comerciantes são selecionados para se juntar ao grupo, o batalhão também participa. Quando acontece algo, eles nos informam, bem como as áreas com maior incidência de assaltos”, disse Nunes.

O tenente-coronel lembra que é a comunidade que vai dar o suporte para que a polícia possa ter um planejamento mais eficaz no momento de lançar o efetivo. “Quem sabe tudo o que acontece 24 horas nos bairros é quem mora neles. As áreas mais vulneráveis, os horários mais críticos. E a cada três meses, fazemos uma reunião presencial para estreitar os laços com a comunidade e estabelecer uma relação de parceria com moradores e comerciantes de cada lugar em que o batalhão atende. Uma rede como essa permite a multiplicação dos esforços”, coloca Luciano Nunes. O 11º BPM é responsável pela cobertura de uma área onde residem cerca de 396 mil pessoas.