Bebê nasce em Noronha, 12 anos após último parto Moradora deu à luz depois de gravidez passar despercebida. Por norma, gestantes são trazidas ao Recife

Publicação: 23/05/2018 09:00

A camareira Jamyla Gomes Ribeiro da Silva, 22 anos, sentiu uma forte cólica no último sábado. Foi ao banheiro e, para sua surpresa, descobriu estar grávida da segunda filha. Pariu logo depois, sobre sua cama, dentro de casa. O caso de Jamyla chama ainda mais a atenção porque o nascimento aconteceu em Fernando de Noronha, no último sábado.

Há 12 anos não havia partos no arquipélago. Com uma média de 40 nascimentos por ano, a administração do distrito diz que não compensa financeiramente a manutenção de uma maternidade com equipe plantonista no local. Por isso as grávidas são encaminhadas para o Recife, quando atendidas pelo SUS, a 545 km de distância.

Esse é o segundo bebê da camareira, que tem outra filha com um ano e quatro meses. O companheiro dela, um frentista, ajudou no parto, mas disse não lembrar nem como cortou o cortão umbilical. O casal acionou o Samu, que encaminhou a mulher para atendimento no Hospital São Lucas. O marido chegou logo depois com o bebê. Ela recebeu alta junto com a criança na segunda-feira.

“A mãe foi atendida pelo plantonista, que é ginecologista e obstetra. Foi submetida a uma sutura e ficou na unidade, junto com o bebê, para evitar risco de infecção por ter tido um parto em ambiente contaminado”, disse o superintendente de saúde da ilha, Fernando Magalhães.

O especialista classificou o caso como “atípico e esporádico”. “Ela disse que, se soubesse que estava grávida, teria realizado o pré-natal, como fez o da primeira filha, e não teria tido o bebê na ilha, e sim no Recife, como da primeira vez”, acrescentou Magalhães.

Segundo o superintendente, durante o processo de amamentação as mulheres não ovulam. Como não estava menstruando, Jamyla chegou a pensar que estava grávida e, inclusive, fez um teste no hospital, que deu resultado negativo.

O último relato de parto na ilha foi há 12 anos, quando a maternidade que funcionava no Hospital São Lucas foi fechada. “Seriam necessárias pelo menos quatro equipes de plantão para manter a maternidade funcionando em uma escala de 24 horas. Como Natal fica a 375 quilômetros da ilha, ou seja, mais perto do que o Recife, algumas mulheres optam por ter os filhos lá. Nesses casos, o parto não é feito pelo SUS e as mães têm planos de saúde, mas custeamos a passagem de avião”, explicou. Mesmo nascidos no continente, filhos de moradores permanentes, a exemplo de Jamyla, são registrados como noronhenses.