À espera de políticas urbanas

Publicação: 17/11/2018 09:00

Pelas suas características e potencialidades, o Torreão tem sido destacado pelos urbanistas como um possível laboratório das propostas de desenvolvimento urbano sustentável que traz o novo Plano Diretor do Recife. Uma delas é permitir o adensamento com qualidade. A substituição de casas por pequenos edifícios pode ser uma estratégia, desde que a oferta de esgoto e drenagem acompanhe a demanda gerada pelas novas ocupações. A ampliação do comércio de vizinhança também é bem-vinda.

“O principal risco num cenário de adensamento é a perda de arborização e consequente impermeabilização do solo. A nova legislação urbanística precisa encarar as supressões de áreas verdes como um problema. Mas também não dá pra confundir adensamento com verticalização. Esse bairro tem tudo para ser mais povoado sem aquele modelo perverso de agressão à paisagem. Pela localização estratégica que tem o Torreão, é possível a oferta de residências sem estacionamento, por exemplo, e que está previsto nas propostas do novo Plano Diretor do Recife”, diz o arquiteto e urbanista Geraldo Marinho.

No entanto, ele complementa que a troca de moradias por escritórios e empresas que não têm diálogo com a cidade são nocivos na medida em que despovoam o bairro. “Todo modelo de desenvolvimento urbano bem-sucedido prevê a diversificação de moradias de diversos padrões e de diferentes negócios com a presença de botequins, mercearias, escolas, farmácias, padarias, controlando os impactos que as atividades possam gerar”, completa Marinho.

O presidente do Instituto Pelópidas Silveira, João Domingos, observa ainda que o Torreão está muito próximo de uma área com centralidade secundária, o bairro da Encruzilhada, que complementa as demandas do Torreão, mas o lugar tem um potencial de transformação urbana positiva. “O novo Plano Diretor vem para valorizar as qualidades urbanas que o Torreão tem, sugerindo um desenvolvimento mais qualificado através dos parâmetros que estão sendo discutidos nesse processo de revisão da legislação urbanística. Um deles é a oferta de moradias que se adequem às várias necessidades, o uso misto do local e uma melhor interface dos edifícios através da menor dependência de vagas de estacionamento. A percepção de segurança pode ser aprimorada no bairro se os muros não forem tão altos”, defende Domingos.

Ele acrescenta que o uso misto tende a movimentar o bairro porque as pessoas sentirão menos necessidade de usar o carro para fazer atividades simples. “As praças podem ser mais vivas para que as pessoas possam se sentir mais seguras. Outra questão é o acesso ao bairro para quem vem da Avenida Norte que pode ser melhorado. As alterações no trânsito do Torreão para potencializar a fluidez da área foi uma amostra que algumas mudanças ajudam a movimentar a área”, disse Domingos. Para a aposentada Ana Helena Aragão, 55 anos, que vive no Torreão desde que nasceu, ver o bairro mais habitado é um sonho. “Aqui não temos uma delicatessen, um café, uma doceria, uma academia de ginástica. Ajudaria a ter mais gente na rua”, disse.

O Torreão
  • Faz limite com os bairros Campo Grande, Encruzilhada, Hipódromo, Santo Amaro e Espinheiro
  • 1,1 mil moradores residem na área
  • 3 km é a sua distância do Marco Zero, no Bairro do Recife
  • Faz divisa duas áreas de interesse social, a Ilha de Joaneiro e Santo Amaro
  • 70% de sua população está acima de 50 anos
  • 368 domicílios estão localizados dentro do bairro
  • 66,29 é a densidade demográfica do Torreão
Fontes: Censo IBGE 2010 e Prefeitura do Recife.