Publicação: 07/03/2020 09:00
Encontrar litros de vodcas dentro de mochilas de alunos com idade entre 13 e 15 anos era comum dentro da Escola Municipal Maria de Sampaio Lucena, Ibura, um dos bairros mais pobres do Recife. Na balbúrdia das festas, estava a melhor oportunidade para que adolescentes e jovens entrassem com bebidas misturadas a refrigerantes ou puras, escondidas em seus livros. Decisão extrema: não há eventos para datas comemorativas na unidade. Desde o último São João é assim. A Maria de Sampaio Lucena tem cerca de 650 alunos.
“Era muito nocivo e a gente precisava de uma solução”, conta a vice-gestora, Ana Cristina Silva, em consonância com a PeNSE, última pesquisa de Saúde Escolar do IBGE. O estudo diz que a maior parte dos adolescente aponta as festas (43%), lugar propício à socialização, como o lugar onde o acesso é mais fácil. (“Eu era gordinho, mas quando fiquei brisado aos 10 anos pela primeira vez com cana, peguei uma mina e aí não parei mais”, contou André* ao Diario.)
Lideranças influenciadoras identificadas, conselho escolar comunitário convocado e um novo portão de ferro compôs o projeto para combater este mal que ameaça a atual geração e é, por vezes, banalizado. Como professora, Ana Cristina sofria ao ver alunos perdidos para o vício. Com Júlia* o enfrentamento começou aos 12 anos. Pesquisas indicam que o consumo antes dos 15 anos eleva em quatro vezes o risco de dependência no futuro. Criada pela avó enfermeira, de formação evangélica, ela se rebelou. “Bebia cerveja e catuaba”, conta a mãe, C. de Araújo*, referindo-se a uma bebida processada com 15% de álcool. “Minha filha foi expulsa da Maria de Sampaio e de outras quatro escolas. Deu entrada no DPCA cinco vezes”.
Mulheres têm bebido em maior quantidade e mais cedo. Este é o primeiro desafio atual a ser enfrentado pelo Brasil, pontua o psiquiatra Arthur Guerra, presidente do CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), que prefacia pesquisa do CISA. Em 2010, 14% de jovens mulheres diziam ter praticado uso abusivo de álcool; em 2018, foram 18%. Mulheres são mais vulneráveis ao álcool, diz o CISA, por causa do tempo para metabolizar o álcool. Os jovens pelo prejuízos que pode causar no sistema nervoso central em formação (Veja arte).
“Cada dia tem mais jovem nesse ciclo. A gente se empenha, tenta ajudar cada família que nos chama, mas as tentações são enormes. Uma delas é a promoção desses paredões”, explica o conselheiro tutelar Luciano Marques da Silva. Os paredões são festas de rua das periferias, embaladas por sons gigantes que surgem da mala de um carro.
No Recife, o único Caps (Centro Médico Psicopedagógico) Infantil Professor Luiz Cerqueira confirma que houve aumento da demanda. Passou de três usuários de álcool em 2018 para 31 em 2019; 99% dos casos são de jovens em vulnerabilidade social. A Prefeitura do Recife não tem “dados de ambulatório nem de emergência”, em se tratando de adolescentes alcoolistas em atendimento psicológico - o que em tese serve a famílias não-vulneráveis.
Quando se trata de prevenção e coibição, toda a rede de proteção parece esgarçada para o álcool. Em dezenas de escolas, muitas vezes sequer é cumprida a Lei estadual Nº 10.454, que dispõe sobre o estabelecimento de perímetro de segurança escolar. O texto proíbe a venda de bebidas alcoólicas na área do perímetro de segurança, a menos de 100 metros de escolas. O Ministério Público acabou a força-tarefa para o enfrentamento do problema. Atende a demandas esporádicas. A Polícia Militar promove palestras em escolas sobre o uso de drogas. Diz que o trabalho tem sido mais voltado ao consumo de crack, cocaína por “falta de registros”. A Secretaria de Políticas de Prevenção à Violência e às Drogas do estado promete campanha sobre o tema a ser lançada em abril . (S.B)
Nomes fictícios e simplificados, de acordo com o Estatuto da Criança e Adolescente
“Era muito nocivo e a gente precisava de uma solução”, conta a vice-gestora, Ana Cristina Silva, em consonância com a PeNSE, última pesquisa de Saúde Escolar do IBGE. O estudo diz que a maior parte dos adolescente aponta as festas (43%), lugar propício à socialização, como o lugar onde o acesso é mais fácil. (“Eu era gordinho, mas quando fiquei brisado aos 10 anos pela primeira vez com cana, peguei uma mina e aí não parei mais”, contou André* ao Diario.)
Lideranças influenciadoras identificadas, conselho escolar comunitário convocado e um novo portão de ferro compôs o projeto para combater este mal que ameaça a atual geração e é, por vezes, banalizado. Como professora, Ana Cristina sofria ao ver alunos perdidos para o vício. Com Júlia* o enfrentamento começou aos 12 anos. Pesquisas indicam que o consumo antes dos 15 anos eleva em quatro vezes o risco de dependência no futuro. Criada pela avó enfermeira, de formação evangélica, ela se rebelou. “Bebia cerveja e catuaba”, conta a mãe, C. de Araújo*, referindo-se a uma bebida processada com 15% de álcool. “Minha filha foi expulsa da Maria de Sampaio e de outras quatro escolas. Deu entrada no DPCA cinco vezes”.
Mulheres têm bebido em maior quantidade e mais cedo. Este é o primeiro desafio atual a ser enfrentado pelo Brasil, pontua o psiquiatra Arthur Guerra, presidente do CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), que prefacia pesquisa do CISA. Em 2010, 14% de jovens mulheres diziam ter praticado uso abusivo de álcool; em 2018, foram 18%. Mulheres são mais vulneráveis ao álcool, diz o CISA, por causa do tempo para metabolizar o álcool. Os jovens pelo prejuízos que pode causar no sistema nervoso central em formação (Veja arte).
“Cada dia tem mais jovem nesse ciclo. A gente se empenha, tenta ajudar cada família que nos chama, mas as tentações são enormes. Uma delas é a promoção desses paredões”, explica o conselheiro tutelar Luciano Marques da Silva. Os paredões são festas de rua das periferias, embaladas por sons gigantes que surgem da mala de um carro.
No Recife, o único Caps (Centro Médico Psicopedagógico) Infantil Professor Luiz Cerqueira confirma que houve aumento da demanda. Passou de três usuários de álcool em 2018 para 31 em 2019; 99% dos casos são de jovens em vulnerabilidade social. A Prefeitura do Recife não tem “dados de ambulatório nem de emergência”, em se tratando de adolescentes alcoolistas em atendimento psicológico - o que em tese serve a famílias não-vulneráveis.
Quando se trata de prevenção e coibição, toda a rede de proteção parece esgarçada para o álcool. Em dezenas de escolas, muitas vezes sequer é cumprida a Lei estadual Nº 10.454, que dispõe sobre o estabelecimento de perímetro de segurança escolar. O texto proíbe a venda de bebidas alcoólicas na área do perímetro de segurança, a menos de 100 metros de escolas. O Ministério Público acabou a força-tarefa para o enfrentamento do problema. Atende a demandas esporádicas. A Polícia Militar promove palestras em escolas sobre o uso de drogas. Diz que o trabalho tem sido mais voltado ao consumo de crack, cocaína por “falta de registros”. A Secretaria de Políticas de Prevenção à Violência e às Drogas do estado promete campanha sobre o tema a ser lançada em abril . (S.B)
Nomes fictícios e simplificados, de acordo com o Estatuto da Criança e Adolescente