3 Perguntas // Paulo Sérgio Ramos Chefe do serviço de Infectologia do Hospital das Clínicas da UFPE

Publicação: 04/04/2020 03:00

Quais são as semelhanças entre a Covid-19 e outras pandemias do passado?
As diferenças são inúmeras e, em parte, devido a um contexto completamente diferente daqueles em que ocorreram outras pandemias, como a varíola, a cólera, a peste e mais recentemente as gripes pelo vírus A(H1N1). Hoje, temos uma população global muito maior, maior densidade demográfica nos centros urbanos, meios de transporte que permitem facilmente a disseminação de patógenos, inclusive entre continentes, além da questão da comunicação imediata e em tempo real, o que leva a celeridade da informação entre as pessoas. No passado, não havia um conhecimento claro sobre os mecanismos de transmissão das doenças, assim como não havia medicamentos e tão pouco vacinas que pudessem controlar a proliferação dos surtos epidêmicos.

É possível traçar um paralelo entre a gripe espanhola e a Covid-19?
A gripe espanhola ocorreu logo após o período da Primeira Guerra Mundial e, em poucos meses, foi capaz de matar mais de 50 milhões de pessoas, sendo relatada no meio acadêmico como a pior e mais destruidora das epidemias até hoje reportadas, tendo ocorrido entre 1918-1920. Apenas após algumas décadas, a ciência pôde relacionar aquela epidemia ao vírus Influenza A(H1N1). É importante salientar que esse mesmo vírus circula desde 2009, quando ocasionou uma grande epidemia e que, desde então, circula anualmente nos períodos de sazonalidade em todo o mundo. Entretanto, não tem apresentado quadros tão graves como aqueles do início do século passado. Vale ainda salientar que temos uma vacina há vários anos para a prevenção de gripe que protege para três vírus diferentes: A(H1N1), A(H3N2) e B. Estamos no momento em plena campanha vacinal para idosos e profissionais de saúde.

O que podemos aprender com a pandemia atual?  

Estamos aprendendo e sairemos muito melhor após esta grave crise em alguns domínios, como o cuidado com a etiqueta respiratória (tossir e espirrar na manga da camisa ou lenço de papel); o cuidado com a higienização das mãos, além de mudança de comportamento de profissionais de saúde que impactarão nas medidas de controle de infecção hospitalar. Estamos também exercendo a empatia e a solidariedade, virtudes que a sociedade tem deixado cada vez mais distante.