Microplásticos no litoral preocupam pesquisadores A pesquisa faz parte de um trabalho iniciado em 2019 em naufrágios na costa pernambucana. A partir de 2022 foi iniciada a coleta de amostras nas praias

Adelmo Lucena

Publicação: 29/06/2024 03:00

Um estudo desenvolvido pelo Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI) revelou dados preocupantes que evidenciam a urgência de ações para combater esse problema ambiental. O estudo, liderado pelo biólogo e coordenador Múcio Banja e pela pesquisadora Jéssica Mendes, foi divulgado na última sexta-feira.

A pesquisa faz parte de um trabalho iniciado em 2019 em naufrágios na costa pernambucana. A partir de 2022 foi iniciada a coleta de amostras de sedimentos em diferentes praias da região, incluindo Paiva, Suape, Porto de Galinhas e Tamandaré.

Os resultados mostraram uma média de mais de 300 fragmentos de microplásticos em cada amostra de 200 ml de sedimento, evidenciando a presença significativa desses resíduos nas praias estudadas.

Uma coleta feita este ano mostrou que a Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, apresentou a maior quantidade de microplásticos (695 fragmentos no total), superando até mesmo praias com maior atividade turística, como Porto de Galinhas (320 fragmentos).

O Paiva possui uma reserva ambiental e é pouco habitado, o que “levanta questionamentos sobre as fontes de contaminação e a necessidade de investigar a influência de fatores ambientais e humanos nesse cenário”, segundo o instituto.

Além disso, a pesquisa também está explorando a presença de microplásticos em animais marinhos, como as esponjas que são filtradores e que capturam partículas presentes nas correntes. Os resultados preliminares indicam uma quantidade alarmante de microplásticos acumulados nesses organismos, o que ressalta a importância de entender os impactos dessa contaminação na fauna marinha.

“A quantidade de microplásticos é extremamente preocupante”, disse Jéssica Mendes. “Essa contaminação representa um sério risco para o ecossistema marinho e para a saúde humana.”

“O impacto dos microplásticos no meio ambiente é muitas vezes subestimado pela população”, comentou Múcio Banja. “No entanto, esses pequenos fragmentos representam uma ameaça real à vida marinha e ao equilíbrio dos ecossistemas costeiros.”

TÉCNICA
O estudo, realizado ao longo de períodos de estiagem e chuvoso, contou com a coleta de sedimentos por mergulho autônomo. As amostras foram submetidas a protocolos de análise que incluíram separação do sedimento e dos microplásticos por meio de flotação, identificação em microscópio estereoscópio e análise granulométrica para classificação sedimentológica.

Os resultados revelaram a presença de 1.406 partículas de microplásticos nas amostras analisadas, com destaque para o nylon azul, que representou 63% do total. A pesquisa também buscou correlacionar a presença de microplásticos com fatores como ação das correntes marinhas e influência dos rios como o Jaboatão (Praia do Paiva), Massangana e Tatuoca (raia de Suape).