O amor nos tempos dos golpes virtuais Busca pelo verdadeiro amor em aplicativos de relacionamento pode se tornar arriscada, já que nunca se sabe quem está do outro lado da tela

Adelmo Lucena

Publicação: 16/09/2024 03:00

Uma mensagem em inglês no Instagram, enviada por um suposto militar, aciona a notificação no celular de Ana Clara Oliveira, de 36 anos, desencadeando uma dor de cabeça e aflição que duraria semanas. O “soldado americano” alegava estar em uma guerra na Síria e precisava da ajuda financeira de Ana para sair do país.

Prometendo um relacionamento com a brasileira, o suposto soldado pedia dinheiro para liberar uma encomenda que, segundo ele, estaria retida nos Correios do Rio de Janeiro. Após a liberação, ele prometia vir ao Brasil para se casar com Ana. Ela passou semanas aflita e chegou a pedir dinheiro emprestado para ajudá-lo. Antes de cair no golpe, foi alertada, mas ainda hoje pensa que a história poderia ser verdadeira.

A busca pelo verdadeiro amor nas plataformas de relacionamento pode se tornar arriscada, já que nunca se sabe quem está do outro lado da tela.

Desde os anos 2010, apps como Tinder, Happn e Badoo se tornaram quase regra para jovens que desejam conhecer novas pessoas e iniciar relacionamentos. Aplicativos voltados para o público LGBTQIA+, como Grindr e Zoe, ou para aqueles que buscam amor fora de seu país, também se popularizaram.

Dados enviados pela Secretaria de Defesa Socisl (SDS-PE) mostram que, de janeiro a julho de 2024, um total de 10.270 pessoas foram vítimas de estelionato/fraude na internet em Pernambuco. Em 2023, no mesmo período, foram 7.830. Em todo o ano de 2023, houve o registro de 14.194 queixas.

Estima-se que aproximadamente dois terços das vítimas no país sejam mulheres, com uma média de idade de 50 anos. Apesar de a maioria dos alvos serem mulheres mais velhas, os golpistas utilizam diversas táticas para extorquir dinheiro ou até sequestrar suas vítimas.

“Em Pernambuco, os golpes mais comuns são os financeiros, como a extorsão. O criminoso tenta obter fotos íntimas da vítima para, depois, chantageá-la. Há também a ilusão do falso amor e promessas de casamento. Outro golpe comum envolve o criminoso afirmando que está vindo encontrar a vítima e que enviou um presente, retido na alfândega, exigindo dinheiro para liberá-lo”, explica o delegado titular da Delegacia de Crimes Virtuais, Eronides Meneses.

O delegado esclarece que os criminosos criam perfis com fotos de pessoas atraentes e miram em pessoas mais velhas. Eles estabelecem contato, iniciam uma conversa e a vítima acaba enviando fotos íntimas, dando início a um namoro virtual rápido. A partir daí, o golpista usa essas imagens para chantagear a vítima.

Em alguns casos, o golpista ainda simula que a vítima teve relações com menores de idade, acusando-a de pedofilia e ameaçando expô-la.

De acordo com a psicóloga comportamental Brunna Lima, os golpistas tendem a mirar em pessoas psicologicamente vulneráveis e com pouco conhecimento sobre o uso de aplicativos.

“Pessoas com histórico de abandono ou sensação de inadequação são mais propensas a esse tipo de situação. Elas podem estar desesperadas por uma conexão emocional e, assim, mais suscetíveis a acreditar em promessas feitas pelos golpistas”, explica.

Saiba mais

Conheça os golpes mais comuns em aplicativos de relacionamento:
 
Golpe do Sugar Daddy:
O golpista finge ser uma pessoa rica, buscando alguém para sustentar. Ele promete luxos como viagens e joias, mas antes de enviar qualquer valor, solicita dinheiro com alguma justificativa.

Golpes militares:
O criminoso finge ser um militar no exterior e alega não poder encontrar a vítima. Ele pede dinheiro para cobrir “despesas” fora do país.

Golpes de catfishing:
Envolve a criação de perfis falsos na internet para enganar pessoas. O golpista se aproxima emocionalmente da vítima para obter dinheiro ou informações pessoais.

Golpe da herança:
O golpista afirma que precisa se casar para receber uma herança, pressionando a vítima a fornecer dados pessoais e documentos. Após isso, desaparece com as informações.

Golpe da foto:
O criminoso solicita fotos íntimas da vítima e, posteriormente, a chantageia para não divulgar as imagens.

Golpes nas redes sociais:
Usando plataformas como Instagram, Facebook, WhatsApp e Telegram, os golpistas ganham a confiança das vítimas e usam suas informações pessoais para aplicar outros golpes.

Golpe da plataforma de petróleo:
Similar ao golpe do falso militar, o golpista alega trabalhar em uma plataforma de petróleo e pede dinheiro  ao longo do tempo.