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Hospital Português faz história na saúde
Surgido durante a epidemia de cólera no Recife, em 1855, o RHP teve como um dos maiores desafios recentes, a pandemia da Covid-19
LARISSA AGUIAR
Publicação: 16/06/2025 03:00
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Localizado na região central do Recife, o Português tem hoje o maior complexo hospitalar de todo o Nordeste e atende as mais diversas especialidades |
Em meio a uma das maiores crises sanitárias da história de Pernambuco, a epidemia de cólera que assolava o Recife em meados do século XIX, nasceu uma das instituições de saúde mais importantes do Norte-Nordeste: o Real Hospital Português de Beneficência em Pernambuco (RHP). Fundado oficialmente em 18 de novembro de 1855, o hospital surgiu do esforço coletivo da comunidade luso-brasileira e tornou-se símbolo de solidariedade, resistência e compromisso com a saúde pública.
A instituição, inicialmente batizada como Hospital Português de Beneficência Provisório, começou suas atividades no bairro da Boa Vista, acolhendo vítimas da cólera, sem distinção de cor, nacionalidade ou condição social. Já nos primeiros meses de 1856, 62 pacientes foram tratados, recebendo atenção médica em uma época de escassos recursos e infraestrutura precária. O reconhecimento pelo trabalho veio logo: o próprio presidente da Província de Pernambuco, José Bento da Cunha, agradeceu publicamente os serviços prestados à população indigente.
Com o apoio da Coroa Portuguesa, o hospital ganhou, em 1856, a proteção real, tornando-se, anos depois, o Real Hospital Português, título concedido por D. Carlos I, em 1907. A distinção reforçou a ligação histórica da instituição com Portugal, ao mesmo tempo em que consolidava sua missão de cuidar da população pernambucana.
AMBULATÓRIO
Mesmo sendo uma instituição privada, o RHP mantém o Ambulatório de Beneficência Maria Fernanda, criado em 1984, que oferece atendimentos gratuitos à população em situação de vulnerabilidade. Além das consultas, o ambulatório promove campanhas periódicas de prevenção e promoção da saúde.
“O espírito da beneficência está no DNA da nossa instituição. Seguimos cuidando de quem mais precisa, exatamente como na nossa origem”, afirma o diretor médico do RHP, Noel Loureiro.
A atuação social da instituição vai além. Projetos como o programa “É Comigo”, criado para capacitar pessoas em situação de vulnerabilidade social, mostram o engajamento do hospital em ações de inclusão e geração de renda, ampliando seu impacto social para além dos cuidados médicos.
Ao longo de quase 170 anos, o Real Hospital Português se tornou o maior complexo hospitalar do Nordeste, destacando-se em diversas especialidades de média e alta complexidade. Serviços como cardiologia, oncologia, ortopedia, neurologia e transplantes firmaram a reputação da instituição. O RHP é responsável por cerca de 80% dos procedimentos realizados em Pernambuco.
ROBÓTICA
O hospital foi um dos primeiros do estado a implantar cirurgia robótica, investindo em equipamentos de última geração, como o StarGuide — um sistema avançado de medicina nuclear. Hoje, a instituição integra a Rede Einstein de Oncologia e Hematologia, fruto de uma parceria estratégica com o Hospital Israelita Albert Einstein.
Outro marco importante foi a atuação decisiva durante a pandemia da Covid-19. O RHP adaptou sua estrutura, ampliou leitos de UTI, criou alas exclusivas para pacientes com o vírus e foi pioneiro no uso da ECMO, terapia de suporte extracorpóreo que salvou dezenas de vidas.
“A pandemia foi um dos maiores desafios da nossa história recente. Mas reafirmamos, mais uma vez, nosso compromisso com a vida”, lembra Loureiro.
O investimento em ensino e pesquisa também é um diferencial do Real Hospital Português. Com programas de residência médica e multiprofissional, o hospital forma profissionais, contribuindo para o sistema de saúde pernambucano.
Em 2023, a criação do Inova Real marcou um novo momento na trajetória da instituição. Trata-se de um hub de inovação dedicado a desenvolver soluções tecnológicas para o setor de saúde, integrando startups, universidades e profissionais de diversas áreas.
Os planos futuros incluem a ampliação da unidade de Boa Viagem, a inauguração dos andares Unique voltados para um modelo de internação mais personalizado e confortável e a integração completa dos serviços de cardiologia. Além disso, o RHP está em processo de criação de sua própria Instituição de Ensino Superior, com previsão de novos cursos de graduação e pós-graduação.