Férias é tempo de crianças fora das telas
O mês de julho é propício para realizar atividades que possibilitem uma reconexão com a infância sem a influência das tecnologias atuais
LARISSA AGUIAR
Publicação: 07/07/2025 03:00
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O excesso de estímulos dos celulares, por exemplo, gera dificuldades de concentração, agitação e ansiedades |
As férias chegaram e, com elas, a chance de oferecer às crianças um tempo de descanso que priorize o essencial: o brincar livre, o contato com a natureza, as interações afetivas e a imaginação. Longe das telas e da correria do dia a dia, o recesso pode se tornar um período de reconexão com a infância em sua forma mais genuína. Em um cenário em que o uso precoce de tecnologia, o excesso de estímulos e a falta de rotina se tornaram comuns, muitas crianças enfrentam dificuldades de concentração, agitação e ansiedade. Para especialistas, é fundamental que pais e responsáveis aproveitem as férias como uma oportunidade de reequilibrar esse cotidiano, com atividades mais simples, sensoriais e humanas.
“A infância precisa de tempo e espaço para acontecer com naturalidade. Quando as crianças se envolvem em experiências reais, desenvolvem a autonomia, a criatividade e aprendem a lidar melhor com as emoções”, explica Cleonice Vieira dos Santos, professora. Substituir o tempo diante das telas por experiências manuais e afetivas pode ser transformador. Atividades como desenhar, cozinhar junto com os adultos, cuidar de plantas, fazer colagens ou montar brinquedos com materiais reaproveitados são algumas opções que despertam o interesse dos pequenos e estimulam habilidades importantes.
Tarefas simples do dia a dia também podem ganhar um novo significado durante o recesso. Convidar a criança para preparar o próprio lanche, arrumar o quarto ou ajudar em pequenas atividades domésticas fortalece o senso de pertencimento e responsabilidade. Essas atividades ajudam a construir autoestima e reduzem a necessidade de distrações tecnológicas. Contar histórias, criar cenários e personagens, montar cabanas, brincar de faz-de-conta: tudo isso desenvolve a escuta atenta, a criatividade e o pensamento simbólico. Estimular a imaginação infantil é, segundo especialistas, um passo fundamental para o desenvolvimento do pensamento crítico e do senso ético na vida adulta.
Ambientes calmos e naturais como praças, parques e até o quintal de casa favorecem esse tipo de vivência. Lugares que permitam observar o tempo, sentir o vento ou explorar texturas são aliados poderosos no processo de desacelerar e reconectar. “O brincar não precisa ter meta, nem hora para acabar. Ele deve ser livre, espontâneo, guiado pela curiosidade da própria criança. Quando ela brinca com outras, aprende a negociar, a dividir, a ouvir e a se expressar melhor”, resume a educadora.
TEA
Para crianças neuroatípicas, como as que estão dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o período de férias pode exigir ainda adaptações específicas. Isso porque mudanças bruscas na rotina, ausência de atividades planejadas e ambientes desconhecidos podem gerar desconforto e crises. Especialistas recomendam que os pais criem uma programação leve, com atividades sensoriais, passeios ao ar livre e brincadeiras que respeitem os interesses da criança. Jogos de tabuleiro, contato com animais, pintura, modelagem e música são opções bem-vindas. Sessões de cinema em casa, por exemplo, também podem funcionar, desde que feitas com intenção e previsibilidade.
O ideal é planejar as atividades com antecedência e compartilhar com a criança o que vai acontecer. Mostrar imagens do lugar, explicar como será o passeio e destacar o que terá de interessante pode reduzir a ansiedade e tornar a experiência mais positiva.
DESENVOLVIMENTO
É importante lembrar que cada criança tem suas particularidades e que os responsáveis devem estar atentos às reações e preferências de seus filhos. O objetivo não é preencher o tempo com obrigações, mas sim criar um ambiente seguro e acolhedor onde a criança possa se desenvolver com tranquilidade.
Férias são mais do que pausa escolar. As colônias de férias surgem como uma excelente alternativa para preencher os dias de recesso com atividades planejadas, seguras e estimulantes, levando em consideração de que muitos pais não conseguem se dedicar totalmente ao período de férias dos filhos, por questões laborais. Em vez de longas horas em frente às telas, as crianças podem participar de oficinas de arte, música, jardinagem, teatro, contação de histórias, além de jogos cooperativos e brincadeiras.
Esses ambientes favorecem a socialização, o desenvolvimento da autonomia e o contato com diferentes formas de expressão, respeitando o tempo e o interesse de cada participante. “Precisamos valorizar o tempo de qualidade com as crianças. As férias são uma oportunidade única de vivenciar momentos significativos, de criar memórias que ficarão para a vida inteira”, psicopedagoga Maria Eduarda Cavalcanti.