Férias pedem cuidado redobrado dos pais com crimes na internet
De acordo com a Polícia Civil de Pernambuco, há um aumento significativo de casos durante o mês de julho
LARISSA AGUIAR
Publicação: 14/07/2025 03:00
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Crianças e jovens podem se tornar alvos de crimes nas redes como aliciamento, extorsão e incentivo à automutilação |
Nas férias escolares, quando as crianças passam mais tempo conectadas a celulares e jogos online, o risco de crimes cibernéticos se intensifica silenciosamente. O ambiente virtual, muitas vezes visto como um refúgio de lazer e distração, transforma-se em um terreno fértil para criminosos que agem com astúcia e malícia. De acordo com a Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de Pernambuco (PCPE), há um aumento significativo de casos de aliciamento, extorsão sexual, incentivo à automutilação e participação em desafios perigosos justamente nos períodos de recesso, como janeiro e julho.
“Nenhum pai deixaria o filho conversando com estranhos pela janela de casa. Então, por que permitir esse contato livre no ambiente virtual?”, questiona o delegado Heronides Menezes, titular da delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos. Segundo ele, os aliciadores virtuais têm como alvo principal crianças e adolescentes entre 10 e 16 anos. Esses criminosos iniciam o contato como “amigos”, oferecendo presentes digitais, como as populares skins de jogos e ganhando confiança até avançarem para pedidos de fotos íntimas, informações pessoais ou propostas de encontros. O crime, conhecido como grooming, tem crescido de forma alarmante, especialmente entre os jovens que frequentam plataformas como Discord, Instagram e jogos online com chats ativos.
SUPERVISÃO
“Qualquer criança que tenha acesso a uma plataforma digital com recurso de conversa já é uma vítima em potencial”, alerta o delegado. O perigo se intensifica porque muitos pais não acompanham de perto o que os filhos fazem no ambiente virtual. A liberdade digital sem supervisão pode se tornar uma porta aberta para abusos. Menezes explica que o risco não se limita apenas ao assédio sexual. “Temos registros de grupos que incentivam a automutilação ou desafios de risco físico extremo. São redes de comportamento sádico, que se alimentam do sofrimento alheio”, completa.
O delegado é enfático ao declarar que a privacidade no ambiente digital deve ser contestada quando envolve indivíduos menores de idade. “Até os 18 anos, os pais têm o dever legal de supervisionar o que os filhos acessam. Se uma criança não permite que os pais toquem no celular, há algo errado”, alerta. Entre os sinais que podem indicar que algo não vai bem, estão mudanças bruscas de comportamento, como isolamento, agressividade, alteração de humor e apego exagerado ao celular. O ideal, segundo ele, é que plataformas de comunicação online, como o Discord, sejam evitadas até pelo menos os 16 anos. Além da vigilância, ferramentas como o controle parental devem ser ativadas. Aplicativos e redes sociais, como o Instagram, já oferecem mecanismos de supervisão familiar, que permitem visualizar atividades, bloquear contatos e restringir acessos.
Quando o crime já aconteceu ou está em curso, é essencial que os pais não apaguem as conversas ou quebrem o contato de forma brusca. “Quanto mais dados forem preservados como mensagens, perfis, URLs maiores as chances de identificação do criminoso”, explica Menezes. Prints isolados, segundo ele, dificultam o rastreamento e a atuação da polícia. A PCPE pode, inclusive, oficiar plataformas digitais para obter informações, mesmo que o perfil usado pelo criminoso seja falso.