O tabu é moda
O polêmico Ninfomaníaca, de Lars Von Trier, é um dos quatro filmes sobre sexualidade em cartaz
Júlio Cavani
juliocavani.pe@dabr.com.br
Publicação: 10/01/2014 03:00
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Joe, vivida por Stacy Martin (jovem) e Charlotte Gainsbourg (adulta), transa com vários homens durante o longa |
Enquanto Confissões de adolescente retrata o sexo como uma coisa engraçada, com cenas que beiram o besteirol e nudez parcial (a atriz Malu Rodrigues mostra os seios), Ninfomaníaca aborda o assunto com tom perverso e pornografia explícita. Azul é a cor mais quente, que relaciona a sexualidade ao amor, foi proibido para menores de 18 anos, enquanto Jovem e bela, cuja personagem principal é uma prostituta, ganhou classificação indicativa de 16 anos. Esses contrastes e contradições sugerem que o assunto ainda é tabu.
O tema é delicado e aponta para diversos caminhos de abordagem e possibilidades de interpretação tanto em relação ao contexto de cada personagem quanto à postura ética dos cineastas. Não é uma discussão nova, pois já rendeu clássicos polêmicos como A última sessão de cinema (1971), de Peter Bogdanovich, com Cybill Shepherd no papel da menina que descobre a sexualidade entre homens jovens e adultos.
Von Trier induz a um julgamento negativo, enquanto Ozon procura apresentar vários pontos de vista para tentar justificar o interesse da protagonista de Jovem e bela pela prostituição e deixar o espectador avaliar as motivações dela. Kechiche adota postura mais romântica e parece mais interessado em contar uma história de amor em que o sexo surge de forma natural, apesar de o público não estar acostumado a cena tão explícitas (a polêmica surge dos valores morais da plateia e não no filme em si). Já Daniel Filho tenta ser educativo e construtivo, mas cai na previsibilidade, superficialidade e banalização em nome de um entretenimento fácil.
Crítica
Apesar da grande expectativa, Ninfomaníaca: Volume 1, de Lars Von Trier, polêmico antes mesmo de ser mostrado, não necessariamente deixará os espectadores chocados ou excitados. As cenas de sexo são tão explicadas pelos diálogos e recebem tantas interferências gráficas didáticas (números, letreiros, imagens metafóricas) que os movimentos corporais perdem a força e as sensações instintivas ficam prejudicadas.
Como aponta o título, esse é o primeiro episódio de uma obra maior, que se completará no Volume 2 (em março). Conclusões definitivas só poderão ser definidas diante da obra completa, mas isso não impede a avaliação dos procedimentos estéticos adotados já nas duas horas que estão nas telas.
Ninfomaníaca: Volume 1 concentra-se na iniciação sexual da personagem Joe, que perde a virgindade precocemente e passa a fazer sexo com uma quantidade de homens numerosa o suficiente para classificá-la como uma viciada. Tudo é narrado pela própria Joe já adulta a um estranho. Na discussão, o sexo é associado ao pecado e à culpa, usado como uma arma pelas mulheres.
Ninfomaníaca
Personagem com sexualidade iniciante: Joe (15 anos). Atriz: Stacy Martin (23 anos*). Nudez: Completa com sexo explícito (homens e mulheres). Motivação sexual: Perversão, prazer e amor. Direção: Lars Von Trier. Classificação indicativa: 18 anos.
Azul é a cor mais quente
Personagem com sexualidade iniciante: Adèle (17 anos). Atriz: Adèle Exarchopoulos (20 anos*). Nudez: Completa com sexo explícito (feminino). Motivação sexual: Amor. Direção: Abdellatif Kechiche. Classificação indicativa: 18 anos.
Jovem e bela
Personagem com sexualidade iniciante: Isabelle (17 anos). Atriz: Marine Vacth (23 anos*). Nudez: Completa (feminina). Motivação sexual: Curiosidade e aprendizado por meio da prostituição. Direção: François Ozon. Classificação indicativa: 16 anos.
Confissões de adolescente
Personagem com sexualidade iniciante: Alice (16 anos). Atriz: Malu Rodrigues (20 anos*). Nudez: Parcial. Motivação sexual: Curiosidade, prazer, diversão, amor e insistência do namorado. Direção: Daniel Filho. Classificação indicativa: 12 anos.
* Idade atual das atrizes.