O eterno inconformado
Considerado o pai do rock brasileiro, o baiano Raul Seixas recebe diversas homenagens pelo país neste sábado, 28 de junho, quando faria 80 anos
Allan lopes
Publicação: 28/06/2025 03:00
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Diziam que ele era louco. Ou melhor, ele próprio se proclamava assim. Foi transgredindo, rompendo padrões e cantando suas verdades que Raul Seixas se firmou como uma das grandes lendas da música brasileira. Neste sábado, quando completaria 80 anos, seu legado será celebrado no Recife com o tributo Toca Raul — 80 anos do Maluco Beleza, com o cantor e compositor Marcos Santana, no Espaço Tô em Casa, que fica em Campo Grande.
A data inspira celebrações em outros cantos do país. No Rio de Janeiro, por exemplo, Frejat, BNegão, Paulinho Moska, Arnaldo Brandão e Ana Cañas sobem ao palco do Circo Voador para reviver seus sucessos e reforçar a sua onipresença no rock nacional. Para uma experiência imersiva sem sair de casa, os fãs podem recorrer à série Raul Seixas: Eu Sou, do Globoplay. Em oito episódios, ela explora as diferentes fases da vida de Raulzito, da sua infância na Bahia até a consagração como fenômeno nacional. Ravel Andrade encabeça o elenco.
“Eu não tenho medo de morrer. Tenho medo de que me esqueçam”, disse o cantor em uma das muitas fitas que deixou guardadas em seu famoso baú. Preocupado com a própria posteridade, ele cultivava o hábito curioso de se autoentrevistar, registrando suas reflexões em fitas de rolo ou cassete. Mas o que vemos hoje é exatamente o oposto do seu temor. O número de tributos comprova que o culto à sua figura só cresceu desde a morte prematura, em 21 de agosto de 1989, aos 44 anos. Talvez porque, sendo uma metamorfose ambulante por natureza, poucos conseguiram, em vida, dimensionar a lenda que se construía bem diante dos próprios olhos.
Nascido em Salvador, em 28 de junho de 1945, Raul ainda era adolescente quando o rock desembarcou no Brasil. O novo som parecia o veículo perfeito para sua inquietação, sobretudo depois que descobriu Elvis Presley. Enquanto outro rei, o do baião, Luiz Gonzaga, dominava as rádios nordestinas, ele absorvia influências que, à primeira vista, pareciam opostas. Foi dessa mistura que ele forjou um estilo único: o rock com ginga brasileira.
Em algumas passagens memoráveis, Raul Seixas deixou sua marca em Pernambuco. Seu último ato por aqui foi em 19 de janeiro de 1989, no Centro de Convenções, ao lado do conterrâneo Marcelo Nova, quando já lutava contra a pancreatite que o levaria meses depois. Mesmo debilitado, cerca de 5 mil fãs testemunharam a entrega total no palco desse poeta inquieto e eterno inconformado.