Tem pagode O estilo romântico dos anos 1990 reencontrou lugar no cenário musical com o retorno de bandas de sucesso da época e com novos projetos

Adriana Izel
Maíra de Deus Brito
Marina Simões

Publicação: 31/05/2014 03:00

Alexandre Pires: retorno ao SPC ampliou saudosismo (GABRIEL FERREIRA/INNOVO)
Alexandre Pires: retorno ao SPC ampliou saudosismo

A música, assim como a moda, vive em ciclos. E o pagode decidiu retornar à baila. Os fãs e até aqueles que preferem não admitir a queda pelo gênero voltaram a cantar versos como “toda vez que eu chego em casa,/a barata da vizinha está na minha cama”, imortalizados nos anos 1990 pelo Só Pra Contrariar.

O resgate começou no ano passado e ganha força em 2014. Um dos sinais do regresso ocorreu há dois anos, quando bandas de indie rock fizeram tributo ao Raça Negra, um dos maiores nomes do estilo musical, com o álbum Raça feliende. O clima de saudade bateu. O retorno de Alexandre Pires aos vocais do Só Pra Contrariar para a turnê dos 25 anos do grupo recobrou o pagode ora romântico, ora escrachado. “Uma andorinha só não faz verão. Eu não atribuiria somente ao SPC o sucesso que a volta dos grupos de pagode dos anos 1990 tem feito. Foi um movimento muito bonito e que, hoje, está sendo abraçado novamente pelo público”, defende o mineiro.

Chrigor (ex-Exaltasamba), Salgadinho (ex-Katinguelê) e Márcio Art (ex-Art Popular): projeto Amigos do Pagode 90 (EDER NASCIMENTO/DIVULGAÇÃO)
Chrigor (ex-Exaltasamba), Salgadinho (ex-Katinguelê) e Márcio Art (ex-Art Popular): projeto Amigos do Pagode 90
Desde o retorno, o SPC gravou um álbum e rodou as capitais brasileiras relembrando os grandes hits e celebrando canções consagradas por outros artistas da época, como Art Popular, Molejo e Raça Negra. “Foi uma forma de homenageá-los, além de fazer uma viagem no tempo. Boa parte do público que hoje curte o SPC viveu essa época em que o samba romântico foi uma febre nas rádios”, comenta Alexandre. A inclusão de músicas de outras bandas deu tão certo, que o SCP se uniu ao Raça Negra com o projeto Gigantes do Samba, que viaja pelo Brasil com shows até janeiro de 2015 (ambos confirmados no Samba Recife, em setembro).

O Molejo, um dos que nunca pararam, precisou procurar um público diferente. “Nos definimos como um grupo camaleão, pois conseguimos nos adaptar a qualquer formato. Nesse meio, tivemos vários projetos e aprendemos muito com o passar do tempo. O principal responsável pela nossa volta ao sucesso foi o público universitário”, ressalta o vocalista Anderson Leonardo. Para ele, a ascensão do estilo consagrado anos atrás tem ligação com o saudosismo dos amantes do gênero. “Os jovens também querem saber quem são o Molejão e o SPC”, afirma.

Rodriguinho também decidiu retornar a Os Travessos. A banda estava separada há oito anos, mas optou por um retorno quando completou 20 de carreira. Com toda a formação original, o grupo gravou um novo disco Tarde ou cedo, que aposta na ideologia do passado e será lançado em 4 de junho. Em carreira solo desde os anos 2000, Salgadinho (ex-Katinguelê) estava com saudade de cantar ao lado de amigos. A experiência de dividir os palcos com outros artistas já tinha dado certo em um programa de televisão no fim da década de 1990, comandado por Salgadinho e Netinho de Paula (ex-Negritude Jr.). Foi uma chance única de reunir Exaltasamba, Karametade, Os Morenos, Sem Compromisso e Soweto.

Salgadinho decidiu que era a hora de fazer algo parecido: convidou Chrigor (ex-Exaltasamba) e Márcio Art (ex-Art Popular) para cantar juntos e criou o projeto Amigos do Pagode 90. Em turnê desde novembro, o trio levanta o público com hits da época, como Lua vai, Temporal e Telegrama. “As pessoas estão redescobrindo o repertório da década de 1990. No mesmo show, vemos um público novo e aqueles que curtem o nosso som há muito tempo”, conta Salgadinho.

Nos shows, os músicos recebem como convidados especiais outros nomes de peso do pagode romântico, como Délcio Luiz e Carica. “Há momento que cantamos apenas composições dessas bandas, cujos integrantes também são nossos amigos”, diz Salgadinho. O quinteto gravará o repertório em CD e DVD.

Pernambuco

As bandas que fizeram sucesso nos anos 1990 como Padang, Ourisamba, Pagunça, Ginga e Malícia, Ironia, Sem razão e Borocochô, preparam encontro para gravar CD especial com hits da época. Motivados pelo retorno de artistas nacionais, eles vislumbram oportunidade de reaquecer o mercado adormecido por falta de estímulo. “O público sempre pede e, agora, os músicos sentem essa vontade”, explica Cacau Assumpção, contrabaixista e diretor musical da antiga Ginga e Malícia. Para Fefé, vocalista do Padang, o público que gosta de pagode é fiel e não deixa de ir aos shows. “Existe uma carência de grupos, o que aumenta o saudosismo”, pontua. O Padang completa 18 anos de carreira com o lançamento do CD Camarote, com regravações das faixas Menina flor e Shangrilá e inéditas. “Naquele tempo, tocamos em todas as casas do Recife: Bragadá, Remelexo, Fun House, Domingueira da AABB. Era um sucesso”, relembra Fefé.

Top 10

Lá vem o negão
Cravo e Canela


Cilada
Molejo


Pimpolho
Art Popular


Tô te filmando
Os Travessos


Barata
Só Pra Contrariar


Eu me apaixonei pela pessoa errada
Exaltasamba


Recado a minha amada (Lua Vai)
Katinguelê


Cohab city
Negritude Jr.


Cheia de manias
Raça Negra


Derê
Soweto