ISABELLE BARROS
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Publicação: 26/06/2014 03:00
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Evento contará comexposição entre os dias 2 e 12 de julho |
De um tronco de mulungu, se esculpe todo um universo voltado ao riso e ao esplendor da cultura popular. A vida adquirida por peças de madeira e retalhos de chita se transmuta no mamulengo, teatro de bonecos que se tornou ponta-de-lança da cultura popular pernambucana, embora exista, com outros nomes, em vários estados. Uma amostra da manifestação cultural será mostrada ao público que passar pela 15ª Fenearte, feira de artesanato já tradicional no calendário do Recife e de Olinda, cujo tema de 2014 é Mamulengos: a arte da alegria.
No mezanino do Centro de Convenções, onde o evento é realizado entre os dias 2 e 12 de julho, estará a exposição Mamulengos - um povo em forma de bonecos, com curadoria e cenografia do ator e pesquisador Fernando Augusto, fundador do Mamulengo Só-riso, um dos grupos mais importantes de teatro de bonecos do Brasil. “Vamos mostrar as origens no Brasil e, em Pernambuco, os personagens, as passagens do espetáculo e os eixos como a religião, a morte e a briga”. Haverá informações sobre mestres mamulengueiros, a atuação do Mamulengo Só-Riso e coleção de bonecos raros, do século 19.
A linha do tempo do mamulengo remonta ao período colonial, quando o teatro direcionado à catequese era chamado de presépio. Ao longo dos anos, se desviou dos objetivos religiosos e se tornou símbolo da picardia na cultura popular. “O boneco popular brasileiro tem o DNA nacional porque é uma mistura do europeu com o africano e o indígena. Várias questões da sociedade são elaboradas nas apresentações: medo, violência, preconceito, repressão da sexualidade e participação política”, enumera Lina Rosa Vieira, idealizadora e curadora do Sesi Bonecos do Mundo e do Festival Internacional de Teatro de Objetos.
O mamulengo não se tornou inspiração apenas no universo da cultura popular, a partir da atuação de mestres ainda em atividade como Miro, Saúba, Zé Lopes e Zé de Vina. Um dos grupos pernambucanos que bebem da fonte como elemento de pesquisa e criação para montagens é a Companhia Mão Molenga Teatro de Bonecos, que existe há 28 anos. O espetáculo Babau foi um dos que trouxe a vida e as realizações dos mamulengueiros como fio condutor da narrativa.
Os personagens
Os personagens do mamulengo são tipos que se repetem nas narrativas feitas por vários mestres e em várias localidades. Entre eles, está a Quitéria, o Benedito, o Cabo 70, o Simão e o diabo. Enquanto alguns personagens, como o Cabo 70, representam a lei, a ordem e o poder dado pelo dinheiro, outros, como Simão, procuram brechas para se afirmar a partir da irreverência, da inteligência e até da violência.
O sobrenatural, com personagens como o Papa-figo e as almas penadas, junto com animais, também fazem parte das histórias contadas pelo mamulengo. Outro personagem emblemático é o Professor Tiridá, criado pelo Mestre Ginu (1910-1977) e um anti-heroi que representa a sabedoria do povo, passando por uma série de situações das quais se safa com maestria.
Para criar
O Espaço Tiridá, em Olinda, abriu inscrições para oficinas de confecção e manipulação de bonecos. Elas serão conduzidas pelo Mestre Tonho para alunos da redes pública e particular ou pessoas interessadas no tema. Informações: 3493-2753.
Onde ver
Em Olinda, quem quiser mais informações o tema pode ir ao Museu do Mamulengo Espaço Tiridá, que completa 20 anos em 2014. Pioneiro como museu de bonecos populares da América Latina, fica na Rua de São Bento, 344, na Ribeira. Ingresso custa R$ 2. Crianças não pagam. Na Zona da Mata, em Glória do Goitá, tem o Museu do Mamulengo, com bonecos feitos por artistas do município. O espaço expositivo fica na rua Celto Campelo, s/n, Centro. Abre de segunda a sexta, das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h. Sábados, das 9h às 17h e domingos, das 14h às 17h. Entrada gratuita.