Iara, sereia e monstro Dois livros enxergam de maneira diferente a lenda disforme do folclore brasileiro

Publicação: 20/07/2014 03:00

Traços do quadrinista Silvino, ilustrador do Diario, refletemamística emtorno da personagemtemida por índios
Traços do quadrinista Silvino, ilustrador do Diario, refletemamística emtorno da personagemtemida por índios
Personagem marcante do folclore brasileiro, a Iara, como toda lenda, não tem forma muito bem definida. A versão mais recorrente descreve a figura mítica como uma índia que foi castigada pelo pai e jogada no fundo do rio. Salva pelos peixes e acolhida pela lua, ela se transforma na “mãe d’água”, que usa a beleza e o canto para conquistar os homens e levá-los à morte. Mas há quem reinvente a história, troque o rio por uma piscina, a aparência de sereia pela de uma criatura sem olhos e com focinho cheio de lâminas. Esse é o caso do escritor paraibano Bráulio Tavares, autor do recém-lançado Sete monstros brasileiros (Fantasy, 104 páginas, R$ 34,90).

No conto Uma gota de sangue, o protagonista trabalha nos preparativos para a inauguração de um hotel. Quando vai fumar à beira da piscina, vê uma mulher nua e encolhida sob uma concha de mármore. Ao enxergá-la de perto, percebe que, ao invés de olhos, ela possui cavidades escuras no rosto, onde brilham luzes esverdeadas capazes de sugá-lo. A boca da Iara se transforma em um focinho comprido, invade a cabeça do homem por meio do canal auditivo, desmancha e suga-lhe o cérebro.

De maneira mais tradicional, a histórica também é contada (e desenhada) pelo quadrinista Laerte Silvino, ilustrador do Diario, na HQ A Iara: Uma lenda indígena (Nemo, 56 páginas, R$ 42). Em volta da fogueira, o pajé Kapot conta como uma bela e habilidosa índia matou os irmãos e, por isso, foi jogada no fundo do rio pelo próprio pai. Transformada em criatura que leva os homens à morte, ela é temida por todos da aldeia. “Errados são os que acham que a morte tem a forma feia. A morte é bonita e tem forma de mulher. A morte tem um nome, e ela se chama Iara”, resume o velho índio.