Fellipe Torres
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Publicação: 31/08/2014 03:00
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Ronaldo Correia de Brito teme que novidade afete as livrarias do interior |
Em dois anos de operação no Brasil, a Amazon aumentou a oferta de e-books de 13 para 35 mil títulos em português. Com a estreia no comércio de livros impressos, na semana passada, o número foi ampliado para 150 mil, praticamente o total de obras existentes em catálogo no mercado editorial do país. Desde então, as ações da varejista norte-americana têm causado controvérsia junto a editoras, distribuidoras, autores. Um dos motivos, talvez o principal, é a política agressiva de descontos, de até 70%, festejada por consumidores.
Segundo o editor do site Publishnews, Carlo Carrenho, a demora da Amazon para começar a venda das publicações impressas se deve ao porte do imenso catálogo. Em resposta ao avanço da empresa norte-americana, várias entidades ligadas ao mercado editorial endureceram o discurso e passaram a propor o estabelecimento de um preço único para livros novos, a ser cumprido em todo o Brasil.
Para a coordenadora editorial da Confraria do Vento, Karla Melo, tabelar o valor dos livros é um passo perigoso. “Você entra no mesmo problema, porque uma única fonte vai determinar o valor do trabalho e a margem de lucro. Acho que vale mais a política do bom senso”. Com escritores pernambucanos no catálogo, como Wellington de Melo e Marco Polo Guimarães, a editora carioca se sente prejudicada no quesito distribuição e acusa a Amazon de querer monopolizar preços.
Outra editora de pequeno porte, a Azougue Editorial viu os próprios livros sendo vendidos com até 70% de desconto no site, e calcula possíveis ônus da promoção. “A Amazon está ‘pagando’ para vender livros. Não visa lucro, aceita prejuízo. Veio para quebrar a concorrência. Eu defendo o preço único como uma forma de defender as livrarias pequenas e médias, aquelas de rua, que além de comércio são pontos de cultura e convivência”, sugere o editor da Azougue, Sérgio Cohn. Para ele, a Amazon vai cobrar das editoras descontos maiores, o que já ocorreu em outros países.
“Essa prática vai além da Amazon. Como consumidora, percebo que muitos livros são vendidos por um valor nas livrarias e logo depois recebem abatimentos de 50% na internet. É preciso alguma política para proteger o leitor. Descontos tão grandes não são motivados por uma necessidade de colocar fazer circular o livro em evidência”, pontua Karla Melo.
O escritor Ronaldo Correia de Brito (cujos livros estão com descontos de até 60%) revela que, no ano passado, durante a Feira de Frankfurt, na Alemanha, a Amazon ofereceu jantar a vários autores brasileiros “com o intuito de se aproximar”. “Já era uma sondagem. Muita gente ligada aos livros está chocada com esse movimento. Há uma preocupação grande. Isso vai afetar muito o interior, muitas livrarias”. A Amazon oferece frete grátis para compras acima de R$ 69 e uma facilidade para que o consumidor leia em e-book enquanto o impresso é entregue.
As pechinchas
ATÉ R$ 10
O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry (R$ 9,80)
Extraordinário, de R.J Palacio (R$ 9,80)
As aventuras de Pi, de Yann Martel (R$ 9,90)
ATÉ R$ 20
Os últimos quartetos de Beethoven e outros contos, de Luis Fernando Verissimo (R$ 17,91)
Quem é você Alasca?, de John Green (R$ 17,80)
Fim, de Fernanda Torres (R$ 19,90)
ATÉ R$ 30
O livro da filosofia, por Will Buckingham (R$ 24,60)
O cavaleiro dos sete reinos, de George R. R. Martin (R$ 25,08)
As crônicas de Nárnia (volume único), de C. S. Lewis (R$ 29,90)
ATÉ R$ 40
Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez (R$ 33,80)
O ladrão do tempo, de John Boyne (R$ 36,10)
O amor de uma boa mulher, de Alice Munro (R$ 31,86)