ISABELLE BARROS
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Publicação: 31/08/2014 03:00
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Clotilde aborda costumes dos portugueses que moraram no Recife. Trupe se apresenta neste domingo no Teatro de Santa Isabel |
A peça O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas se apresenta às 20h deste domingo, no Teatro de Santa Isabel, sob o signo da expectativa. É a última sessão do espetáculo antes da turnê lusitana da produção, realizada pela Trupe Ensaia Aqui e Acolá. A peça, que subverte o melodrama e a tragédia com graça e referências abundantes da cultura pop, tem dez apresentações em Portugal entre os dias 10 e 27 de setembro. Clotilde, como a montagem passou a ser carinhosamente chamada por quem a acompanha, pode ser vista como um termômetro da circulação internacional das artes cênicas pernambucanas. Para quem recebe convites ou vence editais para mostrar o trabalho fora do Brasil, a oportunidade se traduz em trocas artísticas, que caminham juntas com verdadeira ginástica financeira.
As credenciais de Clotilde, adaptação livre do folhetim A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela, são extensas. A encenação foi contemplada pelo Prêmio Myriam Muniz e vem de temporadas bem-sucedidas no Recife, além de circulação nacional, em 2012, pelo Palco Giratório. A viagem à Europa foi financiada pelo Funcultura.
Segundo Jorge de Paula, ator e diretor do espetáculo, a opção por Portugal se deu por causa do idioma e das referências no texto. “O romance no qual nos baseamos, A emparedada, trata do princípio da urbanidade no Recife, de portugueses que vieram para cá viver do comércio. Há muitas referências geográficas da capital pernambucana e uma linguagem muito específica do circo-teatro local, mas percebemos três fatores de aproximação com o público: o texto dramático, baseado no melodrama, raiz da teledramaturgia, a presença do cômico e a cultura pop, com linguagem quase cinematográfica”.
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Leve, do Coletivo Lugar Comum, já foi ao Chile e chega à Argentina e Uruguai |
A trupe viaja com o elenco completo, de seis pessoas, e mais três produtores foram convocados para ajudar na viagem. “Temos R$ 150 mil para viajar e esse valor pode parecer alto, mas não é. São nove pessoas que vão passar quase um mês fora e precisam comer, se hospedar e se locomover, sem contar os equipamentos. Chega a quase ficar inviável. Precisamos nos adaptar”.
Pollyanna Monteiro, da D’Improvizzo Gang, acabou de chegar do 2º Festival Internacional de Mimo e Teatro Gestual (FEIM), na Venezuela, entre 11 e 17 de agosto. Apresentou dois trabalhos em dança-teatro: Cidadela e Berceuse. Para a artista, um dos gargalos é a dificuldade em conseguir passagens. “Os festivais nos chamam, mas não dão o transporte. Vale a pena, pois fazemos uma rede de trocas, mesmo que não sobre muito dinheiro”.
O espetáculo Senhora de engenho - entre a cruz e a Torá, sobre a história da judia Branca Dias, fez nove apresentações internacionais no Chile, em agosto do ano passado, no 8º Festival Internacional de Teatro Itinerante por Chiloé Profundo/FITICH Inverno. O evento bancou hospedagem, alimentação e cachê. O transporte dos atores e do equipamento custou pouco mais de R$ 15 mil, valor coberto pela Fundação Nacional de Arte (Funarte).
Serviço
O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas
Quando: Hoje, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel - Praça da República - s/n, Santo Antônio
Ingressos: R$ 30 e R$ 15
Classificação indicativa: 12 anos
Informações: 3355-3322
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Berceuse e Cidadela |
Bom humor
O ator Pedro Dias, do elenco da Cia. Popular de Camaragibe, responsável pela montagem de Senhora, narra passagens curiosas da viagem. “Nosso elenco tem doze atores. Viajamos com seis e incluímos mais seis do Chile. Tivemos quatro dias para ensaiarmos juntos. Ao menos 30% do espetáculo foram falados em espanhol, ou em portunhol e Branca Dias virou Blanca Diaz”. Outra produção que circulou, desta vez em dança, foi a coreografia Leve, com Maria Agrelli e Renata Muniz, do Coletivo Lugar Comum. O espetáculo também foi ao Chile, com apresentações no Festival Cielos del Infinito em maio. Assim como Clotilde, o duo tem R$ 150 mil de financiamento do Funcultura. Em outubro, Maria e Liana Gesteira - que substituti Renata, em licença-maternidade - viajam à Argentina e ao Uruguai. Segundo a bailarina Renata Muniz, “o que ficou de Leve foi a certeza de um trabalho universal, de comunicação ampla. Nem esperávamos tamanha receptividade”.
Financiamento
As opções de auxílio governamental para espetáculos pernambucanos fazerem apresentações no exterior são poucas. Uma vem pelo edital do Funcultura. Tem linha de ação específica que contempla circulações internacionais. São R$ 150 mil reais por ano para o teatro e o mesmo valor para a dança. Ganham a verba os projetos mais bem avaliados. Alternativa é mandar projeto à Fundação Nacional de Arte (Funarte), do Ministério da Cultura, para competir com outras montagens do Brasil inteiro.
Quem foi
Leve
De 2009, fala de morte, perda e necessidade do luto a partir da dança. Alívio, impotência, vazio se mesclam no duo de bailarinas.
Berceuse e Cidadela
Texto do dramaturgo irlandês Samuel Beckett sobre solidão humana. Cidadela é adaptação de livro de Antoine de Saint-Éxupery e trata de um rei e do império construído por ele.
Senhora de engenho - entre a cruz e a torá
De 2012, conta a história da portuguesa Branca Dias, que fugiu da inquisição no século 16 por ser judia. No Brasil, se torna uma mulher de atitudes avançadas para a época.
O amor de Clotilde
A comédia melodramática estreou em 2010 e traz a história de uma moça burguesa que se apaixona pelo baiano Leandro Dantas, mas esse amor atrai a reprovação do pai da moça.