Primeira, ela No Recife para apresentação única, bailarina Cecília Kerche comenta a dança e a trajetória até se tornar uma das mais importantes do país

Isabelle Barros
isabellebarros.pe@dabr.com.br

Publicação: 19/10/2014 03:00

 (Cecilia Kerche/Divulgação )

Precisão, musicalidade e leveza são atributos que a primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Cecilia Kerche, trouxe ao balé clássico ao longo dos 32 anos de carreira. Após um hiato de mais de seis anos, a artista volta ao Recife para uma apresentação de gala neste domingo, no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem. O evento, da Academia Fátima Freitas, traz Cecília em uma coreografia inédita na cidade, o pas-de-deux Melody, que a bailarina dançará com o primeiro solista do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Moacir Emanoel. A noite conta ainda com apresentações do Ballet da Cidade do Recife, da Cia. de Dança Fátima Freitas e da Cia. Petite Danse, do Rio de Janeiro. O número que Cecília traz é dançado por ela desde o ano passado.

O reconhecimento de Cecília na área da dança a levou a palcos nacionais e internacionais, tendo dançado junto ao Balé Nacional de Cuba, ao English National Ballet e em companhias dos Estados Unidos, da França e da Rússia. Entre os momentos marcantes da trajetória, estão coreografias como Spartacus, La Bayadère e o solo A morte do cisne. A bailarina também é conhecida como a Embaixatriz da Dança, título concedido pelo Conselho Brasileiro de Dança, e é representante oficial do Brasil no Conselho Internacional da Dança (CID), órgão vinculado à Unesco.

Serviço

Noite de gala com Cecília Kerche
Quando: Hoje, às 20h
Onde: Teatro Luiz Mendonça - Parque Dona Lindu, Boa Viagem
Ingresso: R$ 70
Informações: 3467-1140
8744-1005

Entrevista >> Cecília Kerche

“Os brasileiros são muito bem aceitos"

Como você vê o nível dos bailarinos e a evolução do balé no Brasil desde que começou a ser bailarina profissional?
Houve um impulso enorme devido à internet e, por estarmos conectados, sabemos o que acontece na Europa, nos Estados Unidos e na Rússia a um clique. A disseminação da informação, os intercâmbios, os concursos e os festivais são responsáveis pelo desenvolvimento da dança, pois com mais informação muitos professores puderam se aprimorar e desenvolver seus alunos.

Como você vê o campo de trabalho da dança clássica no Brasil?
É muito escasso, se formos comparar, por exemplo, com a Alemanha. Esse país é do tamanho de São Paulo e tem 700 teatros, quase a mesma quantidade presente no Brasil, com uma dimensão territorial muito maior. Somente o Theatro Municipal do Rio de Janeiro funciona nos moldes dos grandes teatros mundiais, com três corpos artísticos e um corpo técnico residente. Na Argentina há um teatro assim em cada província importante, além do Teatro Colón, em Buenos Aires. Com a falta de um campo profissional, o incentivo a mover o bailarino não é o financeiro.

O que falta para que a situação melhore?
Às secretarias estaduais de cultura de cada estado falta entender que a arte lírica é parte de uma indústria do entretenimento, basta ver o movimento que cidades como Londres, Nova York e Paris têm o ano todo com ballets, óperas e concertos. São anos de estudo para se criar um artista de excelência. Não é um hobby para que esses profissionais não tenham onde trabalhar depois de formados.

Qual o tamanho do reconhecimento profissional dos bailarinos brasileiros no exterior?
É claro que isso varia de profissional para profissional, mas, no geral, os brasileiros são muito bem aceitos. Há muitos deles abrilhantando várias companhias pelo mundo.

Primeiros bailarinos

Eles são os melhores e representam a excelência das companhias onde atuam. Do Brasil, os destaques quando o assunto é balé são:

Thiago Soares
Nascido em 1981,em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, é o primeiro bailarino do Royal Ballet, de Londres, desde 2006, quatro anos após entrar na companhia. Antes de se mudar para a Inglaterra, foi do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Ana Botafogo

A bailarina mais famosa do país nasceu no Rio de Janeiro em 1957 e começou os estudos na cidade natal, mas foi na França que iniciou a vida profissional. Tornou-se primeira bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1981 e dançou o repertório mais conhecido do balé clássico, como Romeu e Julieta e O quebra-nozes. Em 2002, recebeu a Ordem do Mérito Cultural, comenda concedida a quem faz contribuições relevantes à cultura brasileira.

Márcia Haydée
Nascida em Niterói, em 1937, abriu caminho para os profissionais brasileiros no mundo. Começou a ter aulas aos três anos e concluiu a formação no Royal Ballet School, na Inglaterra. Após se profissionalizar, tornou-se, em 1962, primeira bailarina do Ballet de Stuttgart, onde virou diretora em 1976. Dançou com nomes como Maurice Béjart e William Forsythe. Foi aclamada como a “Maria Callas da dança” pelo talento em unir atuação e coreografia.

Maria Pia Fonocchio

A gaúcha foi a primeira bailarina do Teatro Municipal de São Paulo durante 20 anos, de 1963 a 1983, e atuou em aproximadamente 50 espetáculos da companhia, além de trabalhar como coreógrafa. Tornou-se conhecida do grande público por ser jurada técnica do quadro Dança dos famosos,
da Rede Globo.