Fellipe Torres
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Publicação: 25/01/2015 03:00
Pelo menos dez filmes indicados ao Oscar 2015 são adaptados ou inspirados em livros – A teoria de tudo, Sniper americano, Garota exemplar, Vício inerente, Jogo da imitação, O hobbit, Invencível, Livre, Os boxtrolls, Grande Hotel Budapeste. A relação entre cinema e literatura, contudo, não é nada recente. Na primeira cerimônia organizada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em 1929, foram premiados três longas-metragens com roteiro criado a partir de obras literárias: Lágrimas de homem, Sedução do pecado e A vida privada de Helena de Tróia. Quase três décadas antes, em 1901, o filme Os fantasmas de Scrooge já propunha uma releitura dos escritos de Charles Dickens.
Com o sucesso da parceria entre mídias, o caminho inverso também passou a ser trilhado para estimular o imenso público espectador a se tornar leitor. Um dos casos emblemáticos é a saga de seis filmes Guerra nas estrelas, exibida entre 1977 e 2005, com bilheteria total de mais de US$ 4 bilhões. No ano passado, a editora Aleph apostou na tradução do livro Star Wars - Herdeiro do império e vendeu, segundo o portal Publishnews, mais de 6 mil exemplares. A obra transita pelo universo da saga cinematográfica sem necessariamente repetir o enredo das produções audiovisuais.
A editora planeja a publicação de mais dois volumes escritos pelo mesmo autor. Outros lançamentos já haviam trilhado o mesmo caminho, ao pegar carona na divulgação dos longas, mas tiveram menor visibilidade. Foi o caso de As aventuras de Tintim: O romance (2012), Branca de Neve e o caçador (2011), O discurso do rei (2011), A garota da capa vermelha (2011) e Garota infernal (2009).
Nicho cinematográfico capaz de render bilheterias astronômicas, as franquias de super-heróis já foram alvo de tentativas por parte do mercado editorial, mas não se mostraram tão promissoras quando contadas em prosa. Na década de 1990, a editora Abril traduziu volumes de contos do Batman e do Super-Homem, além de um romance protagonizado por Clark Kent. Em 2006, foi a vez da Panini lançar livros do Homem-Aranha, Wolverine e X-men. Não vingou. Com a popularização recente da cultura nerd (ou geek) e as cifras cada vez maiores alcançadas pelas adaptações de quadrinhos para o cinema, mais uma leva de obras do gênero começa a chegar às livrarias.
Fruto de negociação com a norte-americana Marvel Comics, a editora Novo Século publicou recentemente os títulos Guerra civil (com Homem de Ferro e Capitão América) e Homem-Aranha – Entre trovões. Com forte estratégia de divulgação, programada para coincidir com os próximos filmes das franquias, a casa editorial tem um calendário com mais outros 13 romances de heróis. Vem por aí X-Men – Espelho negro (março), Homem de Ferro – Vírus (abril), Vingadores – Todos querem dominar o mundo (maio), Homem-formiga (junho), Guerras secretas (julho), Wolverine – Arma X (agosto) e Capitão América – A morte do Capitão América (setembro), Novos vingadores – Fuga (outubro) e Homem-Aranha – A última caçada de Kraven (novembro).
“No mercado norte-americano têm feito muito sucesso as histórias romanceadas dos heróis. Queremos dar continuidade à saga até 2017, e alcançar tanto os fãs de quadrinhos quanto aqueles menos interessados em HQs, mas frequentadores de cinema e leitores de romances”, justifica a editora de título estrangeiros da Novo Século, Renata de Mello. Para ela, quem está ligado ao universo geek encontra similaridade com as narrativas originais dos gibis, pois são produtos complementares, escritos e editados por profissionais com atuação no meio. “É a oportunidade se aprofundar em informações não encontradas nos filmes (com limitação de tempo) ou nas HQs (com caracteres reduzidos). No livro, a palavra corre solta”.
Serviço
Guerra civil: Uma história do Universo Marvel, de Stuart Moore
Editora: Novo Século
Páginas: 398
Preço: R$ 39,90
Homem-Aranha: Entre trovões,
de Christopher L. Bennett
Editora: Novo Século
Páginas: 264
Preço: R$ 34,90
Lucrativos
As dez franquias
de super-heróis mais rentáveis da história
do cinema:
Os Vingadores (14 filmes)
US$ 7 bilhões
Homem-Aranha (7 filmes)
US$ 3,9 bilhões
Batman (13 filmes)
US$ 3,7 bilhões
X-Men (8 filmes)
US$ 3 bilhões
Homem de Ferro (3 filmes)
US$ 2,3 bilhões
Super-Homem (8 filmes)
US$ 1,5 bilhão
Capitão América (3 filmes)
US$ 1 bilhão
Thor (3 filmes)
US$ 1 bilhão
Wolverine (3 filmes)
US$ 791 milhões
Guardiões da Galáxia
(1 filme)
US$ 700 milhões
Fonte: The-Numbers.com
duas perguntas >> Marcus Ramone, do UniversoHQ.com
“É crescente o número de geeks, nerds, dos festivais de HQs.
São sinais de crescimento do mercado”
Como os fãs de HQs têm visto a publicação dos romances com heróis?
Temo uma possível interrupção, caso as vendas dos primeiros volumes não alcancem o público esperado, como sempre aconteceu. O leitor de quadrinhos costuma ser fiel a memorabílias dos personagens preferidos, mas, quando o assunto é livro, não há um histórico favorável no Brasil. Além disso, a média de leitura no país é muito baixa. Por outro lado, é crescente o número de geeks, nerds, dos festivais de quadrinhos. São sinais de crescimento do mercado
Os livros têm potencial para atrair quem não lê quadrinhos?
Não acho, pois os livros não são baseados nos filmes. Alguns são adaptações fiéis das sagas dos gibis. Não é como assistir às adaptações da obra de Stephen King e se interessar em ler os livros. Super-heróis habitam um universo à parte, muito fechado e que exige conhecimento básico sobre a extensa (e chata) cronologia. Além disso, são tidos como “coisa de criança” pelos leigos. Guerra civil, por exemplo, serviu de base para o novo filme do Capitão América, mas o livro não tem nada a ver com o longa. As motivações, o desenvolvimento e as consequências são diferentes. Muitos personagens-chaves da saga não estarão no filme.