Júlio Cavani
juliocavani.pe@dabr.com.br
Publicação: 20/06/2015 03:00
Originalidade nem sempre significa criar algo totalmente novo. Resgatar o que já existe de forma imprevisível pode ser um gesto criativo. É o que demonstram grupos como Conjunto Bole-Bole, Xote Marley, Pife Floyd e Bloco do Sargento Pimenta, que usam o forró para reinventar clássicos. No repertório, o rock vira baião e o reggae, xote. A guitarra é substituída pelo pífano e o que era eletrificado torna-se pé-de-serra. O São João às vezes abriga repetitividade no repertório, até porque há músicas irresistíveis e quase obrigatórias para serem tocadas nos arraiais. Para diminuir as redundâncias, a renovação de composições originais é essencial, mas esses quatro exemplos mostram que ainda há novos caminhos a serem explorados na trilha das versões cover.
XOTE MARLEY
Se Michael Jackson e Bob Marley fossem nordestinos, eles seriam forrozeiros? Essa situação hipotética é experimentada pelo trio Xote Marley, que promove arrasta-pés ao som de Nirvana, Pearl Jam, Bee Gees, Beatles, Pink Floyd e Sublime, entre outros nomes da música internacional (e nacional também), cujos sucessos ganham versões em ritmo de forró. Criado em 2014, o grupo tem tido uma agenda cheia nas festas juninas em 2015 e já chegou a tocar em outros estados. O estilo principal é o xote e, curiosamente, eles usam uma guitarra no lugar da sanfona, junto com zabumba e triângulo. Os vocais são bastante utilizados para substituir trechos com outros instrumentos.
na agenda
Hoje, às 20h, no São João Café do Castro Alves (Rua do Lima, 280, Santo Amaro)
Dia 25, no Taca Mais Música
(Shopping Tacaruna)
Dia 26, às 21h, na Bodega Do Futuro (Rua do Futuro, 181, Aflitos)
Dia 27, às 20h, no São Pedro do Café Castro Alves
CONJUNTO BOLE-BOLE
Formado em Olinda, tem remexido com a memória do forró contemporâneo. “Nosso repertório é um mix do chamego dos anos 1980”, define o zabumbeiro Rudá Rocha. Eles viajaram ao passado e pararam a máquina do tempo na década de 1980. Resgatam clássicos recentes que ficaram famosos na vozes de cantores como Jorge de Altinho (Nem ligue e Sou feliz), Assisão (Eu quero meu amor e Pau nas coisas), Clemilda (Rosa da praia) e Alcymar Monteiro (Nem olhou pra mim). Participam Adiel Luna (vocal), Guga Amorim (triângulo) e Julio Cesar (sanfona), que transportam a estética oitentista para um formato acústico, com cara de pé-de-serra: “Os arranjos daquela época eram marcados por metais, guitarra e bateria”, diferencia Rudá. Fazem homenagens a Dominguinhos e Genival Lacerda, rei do duplo sentido.
na agenda
Hoje, a partir das 19h, no São João da Macuca (Fazenda da Macuca, distrito de Poço Comprido, Correntes, a 280 quilômetros do Recife)
Dia 27, às 23h, na festa de São Pedro da creperia Rouge (Praça de Casa Forte)
PIFE FLOYD
Caso em que um trocadilho deu origem a uma banda: “Surgiu da própria brincadeira com o nome, a partir de conversa entre amigos”, explica o músico Mateus Samico. O grupo começou como bloco de carnaval, que sai aos sábados e às quartas de cinzas em Olinda, mas, aos poucos, iniciou carreira em festas ao longo do ano, com cortejos no meio do público e shows em palco. A proposta básica é usar os pífanos como elo entre o rock e gêneros brasileiros como baião, xote, frevo, samba e marchinha. No repertório, Pink Floyd, Led Zeppelin, Jethro Tull, Black Sabbath e Deep Purple convivem harmoniosamente com Gonzagão, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Hermeto Pascoal e Sivuca.
na agenda
Dia 26, às 22h, na festa Forró Adubado (Espaço Angola Mãe, Rua Ilma Cunha, 243, Bonsucesso, Olinda)
Aventuras nas versões
BLOCO DO SARGENTO PIMENTA (RJ, foto)
O bloco carioca que faz versões carnavalescas para músicas dos Beatles criou um show especial junino, com músicas do quarteto britânico tocadas como xote e baião. Eles apresentaram o novo projeto no Recife em maio, na festa Arrayeah, promovida no Baile Perfumado.
“ESTILIZADO”
No universo do forró “estilizado”, é comum que sucessos internacionais ganhem versões em português. A banda sergipana Calcinha Preta, por exemplo, já fez esse tipo de tradução pelo menos 25 vezes, com direito a releituras de músicas de U2, Scorpions, Bruno Mars, Celine Dion, Fergie, Michael Jackson, Rihanna e Cindy Lauper. O grupo Noda de Caju tranformou My immortal, da Evannescence, em Meu mundo sem você. Come as you are, do Nirvana, virou Liga o som, do Forró Estorado. Wish you were here, do Pink Floyd, deu origem a Cilcone, da Banda Quero Mais. A internet é cheia de listas que revelam essas transações.