Boca do Tempo inaugura uma nova etapa
Resultado de mais de duas décadas de investigações sonoras, o disco é um divisor de águas na trajetória do músico Sergio Krakowski
PEDRO FERRER
Publicação: 17/07/2025 03:00
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O novo trabalho do artista chegou ontem às plataformas |
“Foi no primeiro dia do ano, quando as duas pontas se encontram, que entendi a essência deste disco: o elo”, conta Sergio. “O chamado de fato aconteceu quando meu pai, Osvaldo, morreu. A boca do tempo. Passou, então, a ser inadiável consolidar uma resposta; passou a ser imprescindível usar também a boca, a voz, o ar.”
Com nove faixas, o disco nasceu como uma travessia pessoal entre a perda do pai e o nascimento do filho. “Inicialmente eu entendia o disco apenas como homenagem ao meu pai, mas foi quando ouvi ele completo que entendi que o disco diz respeito ao percurso que liga o meu pai ao meu filho”, diz. “E às descobertas que fiz e sigo fazendo nesse percurso.”
Mesmo com a voz ocupando novo espaço, Sergio deixa claro que o pandeiro continua no centro de tudo. “A palavra surgiu para criar conexões verbais com o público no meio do fluxo de improvisação do pandeiro e da eletrônica. Ela aparece às vezes em um formato mais próximo da canção, outras vezes como mais um instrumento percussivo.”
Uma das inovações mais interessantes do álbum são as chamadas Engrenagens Sonoras de Ativação: células rítmicas compostas por palavras e sílabas cuidadosamente organizadas para gerar impacto tanto sonoro quanto simbólico. “Essa ideia nasceu quando eu dava aula em Nova York”, lembra.
“Percebi que a forma como o percussionista brasileiro fala ritmo é muito específica e eficaz. Ao estudar isso, tive o estalo de aplicar a técnica, criando um impacto rítmico e também verbal.” Boca do Tempo está disponível nas principais plataformas de streaming e em LP.