Publicação: 07/09/2015 03:00
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Ana Cañas lança o quarto disco da carreira: o primeiro completamente autoral |
MeioMPB, meio rock’n’roll...
“Sou gay, hétero, bi, dandara, mulher de zumbi. Pirata, maldita, maluca, mucama, índia, rainha, cigana, mulher”, anuncia uma feminista Ana Cañas em Mulher, uma das 14 faixas do novo disco da cantora, Tô na vida. Inteiramente autoral, o álbum é pontuado por descobertas. Aos 34 anos, a artista surpreende igualmente aos ouvintes e a si mesma. Popularmente conhecida após regravar a música Pra você guardei o amor, de Nando Reis, no começo dos anos 2000, Ana dá um salto e lança o mais ambicioso álbum.
No quarto e mais pessoal projeto, Cañas incorpora uma Pagu moderna. Na capa do disco, Cañas surge nua. Para ela, uma espécie de metáfora da fase que vive. “Não é uma nudez sexual, mas filosófica. Todos nascemos nus. O CD é um renascimento, um novo parto. Busco transcender a questão sexual”, explica. Ana lembra a roqueira Rita Lee, tanto na atitude quanto na voz. “Fruto proibido marcou a minha vida por muitos anos”, conta sobre a obra, que, curiosamente, também foi a quarta lançada por Lee, há exatos 30 anos. “O posicionamento político e sobre questões de gênero dela transcendem a música. Jamais negaria a influência. Rita Lee se infiltra na vida das pessoas”, admite
Questões de gênero, aliás, incomodam Ana Cañas. Além da explícita faixa Mulher, ainda que sutilmente, briga pela independência feminina em diversas canções. Na vida real, não age de modo diferente. “Mesmo dentro do universo da arte, ainda prevalece certo preconceito e o tal ‘clube do bolinha’. Existe o pensamento misógeno que está enraizado na cultura ocidental. Temos que buscar igualdade, pois homens e mulheres apresentam a mesma capacidade de raciocínio, de inteligência e de força. Sexo frágil é c...”, diz.
TÔ NA VIDA
Novo disco de Ana Cañas.
Slap/Guela Records, 14 faixas.
Preço médio: R$ 24,90.
O lado compositora
A cantora carioca Anna Ratto decidiu encerrar um ciclo da carreira após três discos e dez anos de estrada com o lançamento do DVD Ana Ratto ao vivo. “Eu ficava pensando que precisava de um encerramento e que, para isso, era importante ter algo visual, unir meu som à minha imagem. Algumas pessoas conheciam minhas músicas, mas não sabiam quem eu era como artista”, explica. A ideia do DVD saiu de um bate-papo com a amiga, a também sambista Roberta Sá, que foi responsável pela direção artística do material e ainda a parceira no dueto Nem sequer dormir, faixa bônus do álbum. “Um dia conversando no trânsito, falei dessa intenção e ela me estimulou, me deu várias ideias”.
Anna Ratto ao vivo apresenta uma mistura de composições autorais da artista, como Cabra-cega e Seja lá como for, com releituras de grandes sucessos de Tom Zé (Frevo e Se o caso é chorar), Roberto Carlos e Erasmo Carlos (Cachaça mecânica) e Belchior (Velha roupa colorida). “Roberta queria dar ênfase nesse lado autoral, para fortalecer o lado das mulheres compositoras. Mas eu adoro fazer releituras. Então, unimos as duas coisas”, explica. Para a artista, o Brasil vive hoje um ótimo momento com várias compositoras. “Enxergo uma mudança. A Adriana Calcanhotto é um exemplo. Ela é maravilhosa e compõe superbem. Temos uma nova geração de mulheres inspiradas, como Alice Caymmi, Duda Brack, Mariana Aydar e Letícia Noves”, analisa a cantora.
Influenciada por Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee, Baby do Brasil e Novos Baianos, Anna reúne diferentes estilos no samba comandado pela voz suave. “Tem baladinha e músicas nessa onda, mas tem aquele vigor com samba, do xote, do baião e um flerte com música pop. Sou eclética”, diz.
ANNA RATTO AO VIVO
De Anna Rato. Coqueiro
Verde Records, 18 faixas.
Preço médio: R$ 24,90.
Samba da melancolia
Mariana Aydar acaba de lançar o disco Pedaço duma asa, composto por 12 faixas assinadas, em sua maioria, por Nuno Ramos, além de parceiras com Clima e Romulo Fróes. Esses encontros, segundo a artista, proporcionaram trabalho que “possui DNA de samba”, tanto na essência como pelos músicos que ali estão. Em uma leitura intimista das letras elaboradas por Ramos, Mariana afirma ter atingido o refinamento e depuração que desejava no produto final. “Experimentamos uma formação inusitada e reduzida de músicos, algo que, na minha visão, valoriza mais a palavra. Parece mais cru, a voz e a letra ganham mais força.” Além disso, a cantora diz ter explorado um lado musical mais obscuro que o tradicionalmente cantado, deixando a alegria de lado por um instante e se debruçando sobre o oposto, como na faixa Samba triste.
“A vida não é só feliz. O samba triste representa bem esse disco. Acredito que a tristeza pode ser bonita e provocar muitas coisas boas.” Mariana defende que a música, de uma forma genérica, possui uma questão comercial e que busca um sentimento positivo. “Aqui no Brasil existe isso de o samba ser para cima, Sol, Rio de Janeiro, aquela coisa. Penso que se fala pouco na tristeza. Não é porque fiz um disco de canções tristes que estou triste. Eu posso tocar nesse sentimento para entrar no estado ideal da música”, completa.
É o quinto álbum da artista, que buscou uma visão feminina sobre as músicas de Nuno Ramos. “Tem muito a ver com meu momento atual, virei mãe há algum tempo, então foi bem natural trazer essas questões femininas para as músicas.”
PEDAÇO DUMA ASA
De Mariana Aydar. Pommelo,
12 faixas. Disponível no iTunes,
Spotify, Deezer, Rdio,
Google Play e YouTube.