Larissa Lins
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Publicação: 30/11/2015 03:00
“Se hoje estou com vontade de usar roupa mais chique, eu uso. Se quero ficar mais esportivo, eu fico. É o que me vem à cabeça na hora.” A declaração de Pablo, cantor e compositor do arrocha, contraria a lógica da moda aplicada no show business, quase nunca regida pelo que vem à cabeça do artista. Nos shows do recém-lançado Desculpe aí (Som Livre, R$ 14,90), uma nova versão do baiano surgiu diante dos fãs: óculos de grau, cavanhaque mais encorpado, cabelo bem curto e roupas de tonalidade sóbria substituem penteados com gel, sobreposição de camisas em cores fortes e sobrancelhas maquiadas. As mudanças incluem Pablo na lista de artistas cujas transformações visuais marcam nova fase nas carreiras ou o retorno a um estilo próprio - suprimido, ao adentrar o mercado da música, em função de padrões.
Para o consultor pernambucano Diego Rocha, professor do curso de design de moda da Faculdade Senac, dois efeitos são provocados no público a partir da identidade visual do artista: a identificação e a projeção. No primeiro caso, os ouvintes ou espectadores se reconhecem, geralmente a partir de elementos típicos de determinada região do país. No segundo, veem no músico aquilo que desejam ter ou quem desejam ser. “Ao iniciar a carreira, os artistas se adaptam a estereótipos, a fim de se enquadrar ao mercado. Perdem um pouco da identidade, correm o risco de se padronizar. Mas, depois de estabelecidos, incorporam detalhes do estilo próprio, sejam acessórios, corte de cabelo, peça de roupa”, observa. A postura, assumida em posição de segurança (Pablo, por exemplo, já fidelizou fatia de mercado com Bilu Bilu e Porque homem não chora), é arriscada, segundo o consultor: alguns fãs passam a não reconhecer o ídolo e se afastam.
Avaliar se o risco vale a pena é uma das funções do consultor de estilo, que leva em conta fatores como público-alvo, gênero musical e personalidade do artista. Os critérios determinam se um artista dedicado ao sertanejo deve vestir camisa quadriculada e botas (gênero universitário) ou chapéu e sandália de couro (gênero tradicional). Embora ousada, a mudança de figurino pode ser útil: segundo o especialista pernambucano, serve como estratégia para apontar transformações no direcionamento da carreira. Como fez Lady Gaga, ao abrir mão dos exageros que lhe conferiram o apelido de “little monster” e se engajar com o jazz, em parceria com Tony Bennett: penteados e figurino clássicos tomaram o lugar da extravagância pop. “Isso distancia os fãs originais, aqueles captados por identificação ou projeção, no início da carreira. Mas deixa claro que algo mudou”, explica. “A exceção é quando a mudança é característica do artista, como no caso de Madonna, que se reinventa a cada álbum. O público já espera por isso”, pontua.
As transformações
A transformação é mais perceptível em mercados com surgimento frequente de novas estrelas, como sertanejo, forró, pagode e brega. Veja casos:
Pablo
Entre 2010 e 2015, abandonou o cavanhaque desenhado, as sobrancelhas maquiadas e o rosto com contorno marcado. O cabelo propositalmente “bagunçado” com gel deu lugar ao corte com máquina. “Não aguentava mais ter que acordar sempre uma hora antes para arrumá-lo”, declarou, sobre os fios. A sobreposição de camisetas de cores fortes deu lugar a tons sóbrios, como cinza, preto e branco. Peças em jeans também são novidade, tornando os looks mais esportivos, equilibradas pelos óculos de grau, recém-incorporados, que dão ar mais formal.
Wesley Safadão
Entre 2003 (quando lançou Garota Safada Vol. 01) e 2015, Wesley abandonou os longos cabelos estirados e adotou o coque samurai com sidecut (raspado nas laterais), por praticidade, contou. Camisetas estampadas com colete deram lugar a camisas de botão e calças apertadas, depois a regatas. Pulseiras de miçangas e cintos com fivelas grandes foram descartadas.
Anitta
Trocou o nome (nasceu Larissa) e fez plásticas (no nariz, barriga e seios). O figurino migrou do street style - roupas rasgadas, jeans, casacos esportivos amarrados na cintura - para o lady like - vestidos modelados, saltos, renda e bordados. Mistura peças sofisticadas a informais, como short rasgado e scarpin. Já disse que as mudanças são espontâneas, mas não convenceu.
Solange Almeida
Após redução de estômago em 2008, perdeu 50 quilos, adotou novo estilo e contratou personal stylist. Seios, barriga e bumbum foram operados. Tecidos mais simples, como lycra, deram lugar a paetês. Roupas sem corte foram substituídas por modelitos sob medida, geralmente de grife. O cabelo cacheado ficou liso e repicado, na altura dos ombros, em tom de marrom acobreado.
Belo
Além do corpo, agora malhado, mudou o corte do cabelo e o figurino. Fios descoloridos saíram de cena, junto com as correntes prateadas. O cabelo escureceu e o sorriso “torto” foi consertado. Em algumas ocasiões, combina jeans e terno, obtendo aparência high and low. Chegou a declarar que a esposa, Gracyanne Barbosa, seria a principal responsável por planejar as transformações.