Contra a torta na cara...
Marcelo Adnet comemora o sucesso do Tá no ar, encerra as gravações do longa Penetras 2 e afirma ser defensor do "humor-cabeça"
Publicação: 15/03/2016 09:00
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Em novembro, ele estará de volta aos cinemas com o amigo Eduardo Sterblitch |
“Utilizamos um material que estava parado, pedimos autorização para a Gloria e mandamos para o ar, tudo muito rápido. Como humorista, às vezes me sinto um repórter, incorporando a atualidade.” Marcelo Adnet fez essa observação no set de seu novo filme, no Rio. Na terça seguinte, ele foi parar na redes sociais por causa do impacto produzido pelo quadro final do programa – uma paródia de canções de protesto de Chico Buarque, transformadas em odes consumistas, e por isso o Chico de direita foi rebatizado como Chico Buarque de “Orlando”.
Adnet gosta de se definir como um humorista que atua. Adora as caracterizações, e exemplo disso é o Rolando Lero do reboot de A escolinha do Professor Raimundo. Seus projetos incluem até um talk-show. Marcelo ‘Seu Nome É Trabalho’ Adnet acaba de filmar Penetras 2. Desde que o primeiro, Os penetras, levou 2,6 milhões de espectadores aos cinemas em 2012, havia uma cobrança grande para que Andrucha Waddington fizesse a sequência. A Globo Filmes e a Conspiração Filmes, na qual o diretor é sócio, queriam dar logo sequência às aventuras de Marco Polo e Beto, os personagens interpretados por Adnet e Eduardo Sterblitch. Andrucha resistia. Tendo vencido sua resistência à comédia para fazer o primeiro, ele se lançou a novos projetos, incluindo o musical Chacrinha, com Stepan Nercessian. Prometia – “Em cinco anos, a gente volta”.
Andrucha está cumprindo a palavra. No Rio, no último dia 4, ele concluiu as filmagens de Penetras 2. Tire o número do título. É Os Penetras – Quem Dá Mais? De novo, a Globo e a Conspiração estão associadas e a Paris Filmes vai distribuir. A estreia está prevista para 2 de novembro, Dia dos Mortos. Vai fazer sentido, você vai ver. O diretor diz que demorou para fazer o 2 porque queria decantar o sucesso. Encontrar uma boa história. Quem Dá Mais? traz de volta os amigos, com direito a reviravoltas mirabolantes na trama. Tem até falso morto, mas cala-te boca. Olha o spoiler.
“Fizemos um trabalho de mesa, lendo os diálogos para adaptá-los à embocadura dos atores, e foi muito gostoso reencontrar esses personagens. Foi bom para todo mundo. Todo filme é sempre um recomeço, mas, nesse caso, já conhecíamos os personagens e, de alguma forma, ficou mais fácil”, destaca o diretor. “Todos vestiram a camisa”.
No intervalo entre Os penetras e Quem dá mais?, Marcelo Adnet saiu da MTV, foi para a Globo, fez uma série (O dentista mascarado) que desconcertou o público, mas perseverou na emissora e agora colhe um grande sucesso, de público e crítica, com Tá no Ar – A TV na TV. Adnet não é um humorista como os outros. Não faz gracinha para o repórter. Fala seriamente sobre o humorístico de TV, o filme, o talk-show cujo piloto já gravou. Repete muitas vezes uma palavra – ‘autoralidade’. Marcelo Adnet, um autor de humor. Nenhum outro humorista brasileiro de TV ou cinema sabe tão bem o que está fazendo, e por quê. (AE)
O diretor
Depois de Os Penetras, Andrucha Waddington dirigiu o episódio Dona Fulana, de Rio Eu Te Amo, fez o documentário André Midani – Do Vinil ao Download, dirigiu para teatro – o musical Chacrinha -, filmou Sob Pressão e atualmente prepara o show de abertura da Olimpíada do Rio com Fernando Meirelles e Daniela Thomas. De tudo ele fala. Sob Pressão é uma espécie de Plantão Médico carioca. Vai fazer um terror escrito pela mulher, Fernanda Torres, e até, como diretor contratado, um Chacrinha no cinema. Não será o musical, mas Stepan Nercessian permanece no papel. Andrucha só se fecha em copas quando perguntam o que ele pode antecipar da Olimpíada. “Tá maluco, cara? Assinei um termo de confidencialidade. Só posso dizer que vai ser bacana.”
Entrevista Marcelo Adnet // Humorista
"Não forçamos a barra só para dizerem que somos ousados"
Como você explica o que ocorreu com O dentista mascarado?
O público que me conhecia da MTV talvez esperasse que eu fizesse a mesma coisa na Globo. E o público que não me conhecia na Globo encarou com reservas o tipo de trama, sobre um dentista (o Dr. Paladino) de dia e justiceiro à noite. Mas foi importante para mim porque a produção era muito cuidada e bem diferente da MTV. Foi minha entrada num outro esquema. Meu humor é sempre autoral e veio essa outra ideia que desenvolvemos, Marcius Melhem e eu, e resultou no Tá no ar.
Muita gente vê no programa ecos de TV Pirata, do Casseta e Planeta. O que você responde?
São programas que via muito, que formaram meu imaginário. Ria muito com aqueles personagens, aquelas situações todas, adorava a Escolinha do Professor Raimundo e está sendo muito especial participar do remake, mas o Tá no Ar difere de todos porque não faz um humor do cotidiano. Existe em função da TV. Não existiria se não houvesse o zapping.
Você não tem tido problemas com aquele personagem que critica tanto a Globo?
Todo mundo quer saber dos limites que a Globo impõe. Nós mesmos (Marcius Melhem e ele) nos perguntávamos – até onde poderemos ir? Mas a Globo nunca nos disse – isso pode, isso não. E a gente vai indo. É uma questão de autocensura, não estou falando de acomodação. Acho que todo artista responsável tem de ter. A gente vai fundo, mas não estamos forçando a barra só para que digam que a gente é ousado. É gostoso de fazer. A gente se diverte e até se surpreende com as reações. Numa emissora que atende a todas as classes, temos conseguido atingir todo mundo com nossa proposta de metalinguagem da própria televisão.
Já que falamos da TV Pirata, quais são suas referências?
São essas, e também Monty Python, o Professor Raimundo e o grupo Top Lista Nadrealista, que existia na TV Sarajevo e se dissolveu com a Guerra da Bósnia. Gosto de humor-cabeça, que tenha pausa, sutileza, alguma construção, não de torta na cara.
E o seu talk-show, sobre o qual tanto se fala?
Gravamos um piloto tendo Mateus Solano como convidado. Ainda não sabemos sobre o horário, dia da semana e sobre a própria estrutura. É um programa que está em desenvolvimento e ainda não temos quase nada concreto. Precisamos de uns meses pra desenvolver. Aproveito para esclarecer que não se trata de uma substituição de Jô Soares. São programas distintos e o início de um não depende do fim de outro. Além disso, estou participando da dublagem do Angry birds, fazendo o personagem Red.