Um olhar sobre o carnaval que não existiu Documentário dirigido por Mariana Soares e Bruno Mazzoco é ovacionado na segunda noite do Cine-PE, emocionando a plateia que lotou o Teatro do Parque

ANDRÉ GUERRA

Publicação: 12/06/2025 03:00

O grupo Guerreiros do Passo em cena do filme O Ano em que o Frevo Não Foi pra Rua (DIVULGAÇÃO)
O grupo Guerreiros do Passo em cena do filme O Ano em que o Frevo Não Foi pra Rua

Testemunhar o nascimento de uma visão artística tem sempre um sabor especial, mas o tempero é diferente quando se acompanha toda uma trajetória até ali. Conferir a sessão de estreia, no 29º Cine-PE – Festival do Audiovisual, do documentário O Ano em que o Frevo Não Foi pra Rua, dirigido e escrito pela cineasta estreante Mariana Soares em parceria com Bruno Mazzoco, foi um carnaval de emoções. Aplaudido com entusiamo pela plateia lotada do Teatro do Parque, o longa, que mostra o vazio das ruas e dos corações foliões de Olinda e Recife durante os dois anos de cancelamento da festa por conta da pandemia, desembarcou com louvor na terra em que nasceu.

Desde que nasci, Mariana faz parte da minha vida. Somos irmãos por parte de pai (o ator e compositor Romero Andrade) e, portanto, compartilhamos um DNA artístico, carnavalesco e comunicativo. Assim como eu, ela é jornalista de formação, apaixonada por cinema e, sobretudo, pela cultura musical e festiva de Pernambuco. Desde 2009, Mariana se mudou para São Paulo, mas, como se vê em O Ano em que o Frevo Não Foi pra Rua, o espírito da nossa terra se tornou estrela -guia de suas realizações.

A experiência como pesquisadora e roteirista para TV, como coordenadora de marketing e montadora de curtas documentários para divulgação da área de cultura do SESI-SP, onde atualmente trabalha, transborda em cada frame desse novo e ambicioso passo que Mariana dá em sua carreira – e é possível enxergar nas imagens melancólicas em preto e banco das ladeiras de Olinda e do Recife Antigo todo o amor que ela canalizou para um projeto de produção tão complexa e arriscada como foi gravar um filme de cenas externas durante o auge da Covid-19.

Ver o desembarque ovacionado desse projeto, gestado ao longo de mais de três anos e cheio de desafios no caminho, na tela do Cine-PE não é apenas uma satisfação para um irmão mais novo que sempre teve Mariana como referência e inspiração na profissão, mas também para um crítico que, na sua árdua tarefa de conciliar a emoção pessoal com a análise cinematográfica, percebeu a eclosão de uma nova voz, ao som dos clarins de Momo. Evoé, Mariana Soares!