NO RECIFE » Alunos surdos e o desafio da educação bilíngue Ensino em libras e português é oferecido em sete escolas da capital, mas parte dos alunos ainda aprende pelo modelo tradicional

João Vitor Pascoal
joaovitorpascoal.pe@dabr.com.br

Publicação: 24/07/2016 03:00

Luiz aprende todas as disciplinas em libras e tem dificuldades com português (Brenda Alcantara/Esp.DP )
Luiz aprende todas as disciplinas em libras e tem dificuldades com português

No Recife, 116 crianças surdas estão matriculadas na rede municipal de ensino, das cerca de 400 com total deficiência auditiva, entre 0 e 14 anos, apontadas pelo Censo 2010. Entre os matriculados, 76 recebem aulas bilíngue, ministradas por professores que dominam a linguagem de sinais. Nesse caso, o aluno é alfabetizado em libras e português, o que é considerado ideal.

Luiz Ricardo, 15, é um desses estudantes. Filho de um taxista e uma enfermeira, é o único de quatro irmãos com deficiência auditiva. Na prática, ele, que cursa o 8º ano, aprende todas as disciplinas, de matemática a história, na linguagem de sinais. “Gosto da escola. É importante estudar”, conta, completando com a predileção por matemática. “Quero ser professor de matemática e ensinar crianças surdas”, planeja. O empecilho, não nega, é a língua, para ele, complementar. “Na escola bilíngue aprendo a primeira língua (libras) e a segunda, que é o português. É difícil com o português. Sinto dificuldade”.

O conteúdo é transmitido diretamente dos professores aos alunos, sem necessidade de intérpretes, fator que propicia ganho didático. “Quando há essa mudança de linguagem, na passagem do conteúdo do professor para o intérprete e depois para o aluno, acaba ocorrendo perdas. O intérprete apenas traduz o que é dito, às vezes sem interpretação”, explica a fonoaudióloga e doutoranda em Ciências da Linguagem pela Universidade Católica de Pernambuco, Izabelly Brayner. Ela ressalta que “a pessoa surda tem o direito de ser bilíngue”, portanto, salas bilíngues desempenham papel importante, sobretudo na redução dessa perda de conteúdo, realidade que ainda não chega a todas crianças surdas da capital. “O professor com formação bilíngue na linguagem de sinais pode ensinar de forma direta”.

Docente da Escola Municipal Padre Antônio Henrique, no Derby, Ivanilda Albuquerque, desde 2015, tem dedicação exclusiva às salas criadas bilíngues. Antes da implantação do modelo, relata que, misturados, os surdos, por vezes, não tinham auxílio de intérpretes. “Eles eram alunos copistas, ou seja, só copiam, sem necessariamente aprender conteúdos”, relata. Atualmente, nas turmas bilíngues, os estudantes aprendem libras e então passam a ler e escrever em português. Somente na unidade, são cinco professores para todas as disciplinas, em turmas do 6º ao 9º ano, totalizando 44 estudantes.  “É de suma importância que o ensino seja realizado assim. Estou há dois anos e é possível ver a evolução da turma”, afirma a pós-graduada em Libras.

De acordo com a Secretaria de Educação do Recife, a rede tem capacidade para receber todos os estudantes surdos nas salas bilíngues (são 160 vagas para 116 matriculados), em 16 turmas. No entanto, o modelo está disponível em apenas sete escolas, o que leva vários pais a manterem as crianças próximas às residências, tendo acesso ao ensino convencional. Ainda segundo a Secretaria de Educação, a capital é uma das cinco cidades com salas bilíngues, ao lado de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE) e Campina Grande (PB).

Serviço


1 Escola Municipal Rosemar de Macedo
Av. Norte Miguel Arraes de Alencar, 5400 – Casa Amarela
Telefone: (81) 3355-3092

2 Escola Municipal Mário Melo Rua Oliveira Fonseca, 318, Campo Grande
Telefone: (81) 3355-3713

3 Escola Municipal Vila Santa Luzia
Rua Eliseu Cavalcanti, 52, Cordeiro
Telefone: (81) 3355-3550

4 Escola Municipal Padre Antonio Henrique
Rua Viscondessa do Livramento, 290, Derby
Telefone: (81) 3355-3836

5 Escola Municipal Gov. Miguel Arraes de Alencar
Av. Tapajós, 419, Estância
Telefone: (81) 3355-3686

6 Escola Municipal Cristiano Cordeiro
Av. Santos, s/n, UR-2, Cohab
Telefone: (81) 3355-3796

7 Escola Municipal
Karla Patricia
Rua Prof.º Eduardo Wanderley Filho, 700, Boa Viagem
Telefone: (81) 3355-4040