O horror sob a ótica da infância Assim como o best seller O diário de Anne Frank, livros recém-lançados narram a Segunda Guerra Mundial a partir da perspectiva de crianças

Nahima Maciel
edviver.pe@dabr.com.br

Publicação: 21/09/2016 03:00

O livro assinado por uma criança mais famoso sobre a Segunda Guerra Mundial não trata da experiência de desumanização vivida nos campos de concentração e guetos e sim do dia a dia de uma menina escondida no sótão de uma casa em Amsterdã (Holanda). Traduzido em 67 idiomas, O diário de Anne Frank vendeu mais de 30 milhões de exemplares. A guerra narrada do ponto de vista infantil pode ser mais cruel, mas carrega também uma perspectiva única e delicada. Quando os pequenos são vítimas ou protagonistas, a besteira humana parece alcançar dimensões épicas. É o que acontece em O livro de Aron (Jim Shepard), Anna e o homem das andorinhas (Gavriel Savit) e A cor da coragem (Julian Kulski), todos lançamentos que acabam de desembarcar nas livrarias.

A cor da coragem tem início quando Julian Kulski, de 10 anos, é enviado para uma cidade do interior da Polônia com a mãe e a irmã, em agosto de 1939. Filho do vice-prefeito de Varsóvia, o garoto assiste à crescente preocupação do pai diante da ocupação alemã com um certo entusiasmo. Seu maior temor é a guerra acabar e ele não poder participar. Mas as coisas vão ficar feias na Polônia. Varsóvia será um entreposto de Hitler e mais de 300 mil judeus vão perecer no gueto criado pelos nazistas. E Kulski vai lutar.

O garoto não é judeu e pode, portanto, circular pela cidade. Ele aproveita essa liberdade para se juntar ao exército da resistência polonesa. No diário, publicado pela primeira vez em 1979 e agora reeditado, o menino cresce à força diante da morte e da devastação. Setenta e sete anos se passaram desde o início da guerra, mas Kulski ainda tem dificuldade em aceitar a desumanidade da época. Ele conta, no prefácio, que decidiu publicar o relato para ajudar historiadores na reconstituição dos fatos.

Em O livro de Aron, o protagonista é um menino do campo, atentado e genuíno causador de problemas quando a guerra desembarca na Polônia. À medida que os alemães baixam medidas restritivas e que a destruição avança, Aron se desdobra em pequenos delitos para ajudar a família. Curiosamente, O livro de Aron e A cor da coragem falam exatamente de um mesmo período e local.

A Segunda Guerra teve início em setembro de 1939, quando os alemães invadiram a Polônia, terra de Aron e Kulski. Mesmo com a ficção interposta entre os dois personagens - o primeiro é uma invenção do escritor norte-americano Jim Shepard e o segundo está vivo até hoje -, os relatos permitem acompanhar os olhares de dois extremos de uma sociedade massacrada pela invasão.

Também lançado este ano, Anna e o homem das andorinhas, do norte-americano Gavriel Savit, traz um olhar um pouco mais poético, embora seja difícil se afastar da crueza da guerra. A história se passa no mesmo período e local das anteriores: Anna é uma menina polonesa de 7 anos que acaba sozinha depois que o pai, um professor universitário, é levado pela Gestapo, a polícia nazista, para o campo de concentração.

Prateleira

A cor da coragem, de Julian Kulski
Valentina, 272 páginas. R$ 59,90

O livro de Aron, de Jim Shepard
Companhia das Letras, 208 páginas. R$ 44,90

Anna e o homem das andorinhas, de Gavriel Savit
Fabrica 231, 272 páginas. R$ 29,50

O mundo de Anne Frank, de Janny Vand Der Molen
Rocco, 184 páginas. R$ 34,50

Para além do diário de Anne Frank, organizado por Casa de Anne Frank.
Casa da Palavra, 192 páginas. R$ 34,90