Entrevista // Carminho cantora portuguesa

Publicação: 21/01/2017 03:00

Como chegou à obra de Tom?
Despertei minha atenção para as músicas de Tom Jobim ainda pequena, ouvindo-as na trilha sonora de novelas brasileiras exibidas em Portugal. Depois vi que, separadas das novelas, elas faziam parte do repertório dele e percebi a importância de Tom na música brasileira e na música do mundo. Fiquei encantada.

De que forma você buscou ter um conhecimento maior sobre Tom?
No meu caminho até Tom Jobim, houve pessoas e fatos que me levaram à figura que criei dentro de mim. Veio através de um conjunto de peças: histórias que me contavam, comentários que li, músicas que ouvi. Chico Buarque me falou sobre a personalidade e a generosidade de Tom, que gostava de ter as pessoas perto dele, de partilhar com os mais novos, de fazer parceria com muita gente.

Qual foi o critério para a definição do repertório?
Parti de critérios. Há canções de Tom que são bem conhecidas em Portugal, mas não são muito cantadas no Brasil. Há outras famosas no Brasil, que os portugueses ainda não descobriram. Quis que as melodias e os poemas fossem confortáveis na minha voz, que eu me sentisse natural ao interpretá-las. Escolhi as que me marcaram, como Luísa e Wave. As cantadas por intérpretes, como Bethânia e Milton, despertaram em mim a vontade de conhecer mais a cultura do país.

O que a levou a fazer duetos?
Esses duetos são um privilégio para mim. Já conhecia o Chico Buarque, por quem tenho admiração e que gravou comigo no CD Alma. Bethânia é, para mim, uma intérprete excepcional, que olha para as palavras, para o sentido das frases. Ela me emociona por ser tão real e pictórica. A percebo uma mestra. Marisa Monte é minha irmã no Brasil, uma pessoa generosa, que me presenteou com Chuva no mar, uma canção linda, dela e de Arnaldo Antunes, para o CD Canto em que fizemos dueto. Marisa diz o que sente, sem filtro. Eles, assim como Fernanda Montenegro - que, na abertura de Sabiá, recita versos da Canção do exílio, de Gonçalves Dias - não se fecham, não têm medo de dar o que têm, porque possuem talento inesgotável.

Foi sua a escolha dos músicos que a acompanharam nesse projeto?
Quis ter comigo os verdadeiros conhecedores desse repertório. Ter essa banda a tocar no meu disco é um sonho. Tive a generosidade deles no estúdio, ao aceitarem minhas sugestões. Perceberem que tenho uma identidade, minha linguagem, minha cultura, minha forma de interpretar. Sem eles, não sei se existiria esse disco. O quarteto funcionou como uma rede para um trapezista. Sabia exatamente o que era importante manter e deixar a minha imaginação fluir.

Que disco você quis fazer?
Quis fazer esse disco de forma clássica, respeitadora, sem ser óbvia. Mas, ao mesmo tempo, sentir que é algo que me represente como intérprete portuguesa e cantora da música do mundo.

Ter uma música na trilha sonora de uma novela brasileira - A lei do amor -, o que representa para você?
É algo extraordinário, no sentido que me revejo. Conheci a música brasileira através das novelas, das músicas que elas traziam. E penso que agora faço parte desse universo. Que o Portugal contemporâneo pode ser representado por mim nesta viagem que as músicas de novela levam as pessoas a fazer.
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Tom à portuguesa