Indústria de braços dados com a arte Experimentações com vidro e cerâmica, além do diálogo com outras linguagens, compõem exposição em cartaz a partir de hoje, com trabalhos de seis artistas plásticos pernambucanos

ISABELLE BARROS
isabelle.barros@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 15/02/2017 09:00

Em Tubarão de Garanhuns, obra de Daaniel Araújo, peças de azulejo receberam impressão digital de 20 x 20 cm. Pesquisa surgiu de experiência do designer Hassan Santos em uma fábrica  (Hassan Santos/Divulgação)
Em Tubarão de Garanhuns, obra de Daaniel Araújo, peças de azulejo receberam impressão digital de 20 x 20 cm. Pesquisa surgiu de experiência do designer Hassan Santos em uma fábrica

A origem da cerâmica se confunde com o surgimento das primeiras civilizações. Esse material se tornou notável ao longo da história por simbolizar a habilidade humana em transformar materiais da natureza a seu favor. Um pouco desse saber ancestral - apropriado pela indústria para os mais variados fins - pode ser visto no projeto Vitrocerâmicos: pesquisa artística, que tem sua culminância com uma exposição, cuja abertura acontece hoje, às 18h, no Museu Murillo La Greca.

Segundo o idealizador da mostra, o artista visual e designer Hassan Santos, a iniciativa começou a partir de uma experiência profissional na fábrica Lilou, voltada para a produção de vidros e cerâmicas. “Trabalhei na empresa em 2013 e encontrei uma liberdade de criar coisas novas. Fazíamos misturas de cerâmica e vidro antes inexistentes no mercado. Quando vi as possibilidades de experimentar esse material, comentei com meus amigos e eles se interessaram. A partir disso, tive a ideia de fazer um projeto, incentivado pelo Funcultura, para dar espaço ao trabalho com cerâmica vitrificada de forma a unir arte e indústria”. A convite dele, mais cinco artistas abraçaram a ideia: Chico Ludermir, João Lin, Daaniel Araújo, Nando Zevê e Joelson Gomes.

A partir daí, as portas da fábrica foram abertas para os artistas-pesquisadores durante três meses. A maioria optou por continuar em uma linha já explorada por eles, mas com o adicional da experimentação de um material novo para quase todos, exceto para Joelson, que já desenvolve projetos com cerâmica há anos. “Como eu já tinha passado por isso, de experimentar e quebrar muita coisa, já sabia da reação do forno e do efeito das altas temperaturas. Entre fazer e vê-lo pronto, era uma surpresa, porque o resultado era outro depois que o fogo tomava conta. Minha intenção também é a de abrir um diálogo entre a indústria e outras áreas do conhecimento”.

A partir da proposição de Hassan, os artistas começaram a trabalhar em seus projetos. O idealizador da mostra vai apresentar o trabalho Esquemas, com gráficos abstratos feitos em superfície vitrocerâmica. As pesquisas iniciadas em 2013, ainda na fábrica, com corantes, fotografias, desenhos e pinturas, também estarão presentes. A fotografia também é o alvo das investigações artísticas de Chico Ludermir, presente na exposição com o estudo Revestimentos. A ideia é fazer um paralelo entre duas superfícies: a pele e os azulejos.

Artista João Lin aposta no erro como parte da poética (alto). Chico Ludermir acrescentou fotografia às investigações (Hassan Santos/Divulgação)
Artista João Lin aposta no erro como parte da poética (alto). Chico Ludermir acrescentou fotografia às investigações
O ilustrador João Lin, por sua vez, aceitou o erro como parte integrante de sua poética e resgatou materiais descartados por erros de produção, registrando, por cima deles, desenhos de coração feitos à mão livre. Além disso, o artista gráfico apresenta desenhos variados para as superfícies de vidro. Já Joelson aprofunda a série Infinitamente, composta por aplicações de imagens de um pássaro. O mais experiente do sexteto já trabalhou, inclusive, no projeto Olaria Ocre, baseado em Tracunhaém e voltado para o uso de pigmentos orgânicos.

Daaniel Araújo e Nando Zevê completam a lista de artistas participantes. O primeiro optou pela imagem de temas cotidianos, trazendo para este novo suporte uma pesquisa voltada para a crítica à especulação imobiliária. Daaniel fez, em azulejo, um painel com a frase “área sujeita a ataque dos barão”. Já Nando Zevê traz sua série Peixe fora d’água, presente pelo Recife por meio de adesivos, lambe-lambes e grafites em muros e paredes da cidade. As obras da exposição também vão estar à venda e os materiais presentes ao longo desse processo, como o vidro em pó, os corantes, o azulejo cru e o azulejo queimado, também serão exibidos ao público.

Roda de conversa

Em março, em data ainda não definida, os seis artistas convidados para a mostra vão participar de uma roda de conversa, no Museu Murillo La Greca, sobre os processos criativos e, nesta ocasião, também será lançado o catálogo da mostra. Informações sobre a iniciativa em www.projetovitroceramicos.hotglue.me.

Serviço

Exposição Vitrocerâmicos: pesquisa artística
Abertura: hoje, às 18h
Onde: Museu Murillo La Greca (Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, 366, Parnamirim)
Visitação: Terça a sexta-feira, das 09 às 12h e das 14 às 17h; Sábados, das 14 às 18h
Quanto: gratuito
Informações: 3355-3126