A bossa dançou Estilo do samba cheio de suingue e sonoridade própria, o sambalanço tem a história esmiuçada pelo crítico e pesquisador Tárik de Souza

Publicação: 15/04/2017 03:00

Um momento na história do samba em que um ritmo dançante tomou conta das boates do Rio de Janeiro com onomatopeias como telecoteco, esquindô e ziriguidum. Tirou, literalmente, os frequentadores para dançar. Compositores passaram a inserir mais suingue naquelas melodias, levando para dentro das casas noturnas o órgão e instrumentos elétricos, que ajudaram a dar outra sonoridade ao samba.

O sambalanço invadiu o Rio dos anos 1950 e 1960, no mesmo momento em que a bossa nova tomava conta com letras contemplativas e intelectualizadas. O pesquisador e crítico Tárik de Souza era adolescente à época. Fã dos compositores, há 15 anos decidiu pesquisar a fundo e agora lança Sambalanço, a bossa que dança: um mosaico (Kuarup, 272 páginas, R$ 35,90), livro que faz justiça ao movimento cuja história acabou ofuscada pela bossa nova.

“Como jornalista e crítico de música, estranhei que não tivesse sido registrada por ninguém. Aí me dei a tarefa de fazer esse registro, até porque fui fã de vários artistas que estouraram à época. Acompanhei tudo”, conta. O livro aprofunda a história do samba quando o país comemora o centenário do gênero musical mais famoso. Havia rivalidade entre o sambalanço e bossa, embora alguns artistas de um lado tenham bebido nos ritmos do outro lado. Para ele, o gingado trouxe possibilidades ao samba.

O livro tem ensaio sobre a obra dos principais compositores - Orlandivo, Miltinho, Djalma Ferreira, Ed Lincoln e Celso Murilo - e seus intérpretes - de Inezita Barroso e Dolores Duran a Elza Soares (foto) e Isaurinha Garcia. Um dos destaques foi o cantor Sílvio César. Outro capítulo traz verbetes dedicados a 13 artistas, ajudando o leitor a se situar, mas é nas entrevistas que está o material mais interessante.

Orlandivo, que morreu há dois meses, contou a Tárik como convenceu João Donato, um dos precursores da bossa nova, a gravar Sambaflex, clássico do sambalanço. Inventor do “samba de chave”, Orlandivo estourou com Bolinha de sabão. Mais tarde, gravaria com Jorge Ben os sucessos Por causa de você menina e Mas que nada.

“Sei muito bem que o samba tá misturado/ Desse tempero sai um samba legal/ É samba rock, funk samba de jazz/ É sambalanço samba flex demais”, cantou Orlandivo. Entrevistas com Durval Ferreira (que se dividiu entre a bossa do Tamba Trio e o sambalanço), Elza Soares, que militava em todos os lados e viu o marido, Garrincha, compor “samba balançado”, e Donato, responsável por arranjos de discos de Orlandivo, Dóris Monteiro e Eumir Deodato, trazem histórias que ajudam a delinear o movimento.