O astro em seu habitat natural
Premiado no Festival de Cannes, Wagner Moura fala com exclusividade ao Viver sobre a experiência de filmar "O Agente Secreto" no Recife
ANDRÉ GUERRA
Publicação: 27/05/2025 03:00
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Um reencontro com a língua nativa, a realização de um antigo sonho de parceria e o fechamento de um longo processo criativo. É assim que Wagner Moura, o mais recente vencedor do prêmio de Melhor Interpretação Masculina do Festival de Cannes, descreve o seu trabalho em O Agente Secreto. O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, que também saiu premiado da Riviera Francesa no último fim de semana, na categoria Melhor Direção, vinha trabalhando há cerca de cinco anos nesse projeto, surgido justamente das inquietações sociais, políticas e cinematográficas dele e do ator baiano, que aguardava uma oportunidade de trabalhar em um filme seu.
Marcelo, vivido por Wagner, o protagonista deste longa ambientado no Recife de 1977, é também fruto das duas personalidades que deram vida ao filme na tela e por trás dela. Lidando com a ditadura militar no Brasil mais como uma contextualização histórica e um pano de fundo atmosférico do que um assunto tematizado na história, como acontece em Ainda Estou Aqui, o thriller de Kleber revela um lado do regime pouco explorado no cinema brasileiro contemporâneo: a falsa sensação de normalidade e a paranoia urbana.
“Foi massa demais a energia do pessoal da figuração, todo mundo queria aparecer de alguma forma e isso deixou o clima do set muito gostoso, como sempre acontece nos trabalhos com Kleber. Muitos amigos dele e de Emilie (Lesclaux, produtora) vieram participar, pessoas famosas também, como Fred Zeroquatro”, relembra Wagner em entrevista exclusiva ao Viver, em Cannes. “O set dele é sempre feito de muita proximidade, porque são pessoas que trabalham juntas há tanto tempo, que agregam quem está chegando com uma energia muito poderosa. Não me lembro de nenhum momento, nos meses em que fiquei no Recife, que não tenha sido incrível”.
Vale lembrar que, em 2000, o ator veio à cidade estrear A Máquina, espetáculo de João Falcão que o projetou nacionalmente, ao lado de Lázaro Ramos, Vladimir Brichta e Gustavo Falcão. A montagem ficou em cartaz no antigo Armazém 14, no Bairro do Recife. Retornar à capital pernambucana e filmar em português após mais de dez anos em carreira internacional – e ainda receber uma honraria inédita para um brasileiro em Cannes – foi bem maior que o esperado.
Wagner aproveita para enaltecer a força do cinema pernambucano como vanguarda do cinema brasileiro. “Sempre fui fascinado pelos filmes e pelo trabalho dos cineastas. Tem muita gente incrível nesse estado”, exalta o ator. “Não vejo a hora de lançarmos o filme no Recife, visitar de novo aqueles restaurantes maravilhosos e celebrar com todos desse lugar pelo qual eu sou tão apaixonado e que, mais uma vez, marcou a minha vida”, avisa.
O Recife mal pode esperar para ver na tela o que é, seguramente, a mais prestigiada produção filmada até hoje na cidade. E Kleber já avisou: a primeira projeção no Brasil será mesmo na cidade, com direito a muito frevo. Como foi em Cannes.