O melody se renova
Vertente do brega recifense ganha novos projetos conduzidos por vozes femininas
e passa por mudanças sobre os palcos
texto: Marina Simões
marina.simoes@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 13/05/2017 03:00
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Cantora Tayara Andreza deixou a banda Torpedo para seguir carreira solo |
Com 11 anos de carreira, a banda Espartilho, liderada por Isa Falcão, é uma das representantes de um movimento que retorna ao passado recente para resgatar clássicos do ritmo no disco Baú bregoso. No repertório, músicas como Não deixe o brega morrer (Banda Aparências), Como uma virgem (Banda Calypso), Romeu e Julieta (Swing do Amor) e Baby doll (Banda Metade). “Cada música que a gente toca no show parece que é um gol do Brasil. O repertório já fazia parte do nosso show e virou um projeto completo”, diz Isa. “O brega tem ganhado respeito. A gente prova isso com as casas de show lotadas. A cada esquina que você passa, ouve um brega. E ainda tem gente que fala que não é cultura?”, questiona. “A cultura de pernambuco não é só frevo, maracatu e caboclinho. É o brega também. E, se depender de mim, ele não vai morrer nunca”, defende Isa.
As renovações também vieram em outras esferas. A sonoridade, os figurinos e até as danças mudaram. No início, as cantoras usavam roupas brilhosas, bordados e transparências. Hoje, apostam em figurino mais pop. “Eu não tinha condições de usar roupas melhores. Lembro que passava a noite bordando ou pegava roupa da minha mãe. Hoje, estamos mais ligadas nas tendências e cada uma cria seu próprio estilo”, diz Isa. A formação das bandas também permite novas fórmulas. “Canto acompanhada por dois meninos no palco: Alan e André. Eles dançam coreografias soltas”, comenta.
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Protagonistas: Carla Alves, Ísa Falcão e Michelle Melo: cantoras investiram na carreira solo |
Expressão cultural
Ritmo originado nas periferias recifenses, o brega está em vias de ser reconhecido como expressão genuína da cultura de Pernambuco - em patamar equivalente a maracatu, caboclinho, frevo e manguebeat. Projeto de lei de autoria do deputado Edilson Silva (PSol) foi aprovado em uma das comissões da Assembleia Legislativa e deve ser submetido a mais uma votação antes de ficar disponível para sanção do governo do estado. Artistas da cena brega comemoraram o reconhecimento. No carnaval deste ano, o executivo estadual estabeleceu veto à contratação de bandas e cantores de brega por parte do governo por desconsiderar o ritmo como parte da música brasileira.
VEM POR AÍ
TAYARA ANDREZA
Após cinco anos nos vocais da Torpedo, a cantora de 24 anos partiu para carreira solo em busca de autonomia. O primeiro single é Medo de você, composição de Marília Mendonça e Juliano Tchula. “É uma satisfação gravar um música de Marília. Sou muito fã”. A segunda música lançada, Um minuto, teve clipe produzido e roteirizado por Tayara. Segundo a cantora, o show está mais eclético e inclui uma seleção de bregas antigos. “Carregava o nome da banda e tinha medo que as pessoas não me reconhecessem como Tayara. Mas a repercussão foi melhor do que esperava”. Ela vai gravar música inédita em parceria com Priscila Senna, da Musa.
BANDA ESPARTILHO
A banda Espartilho lança o CD Baú bregoso, composto por 25 bregas antigos de expressão. No repertório, desde as primeiras faixas do grupo, como Quando o coração não quer, Não pense e Essa saudade, até hits como Rapariga é você (Beijo bom), Não deixe o brega morrer (Banda Aparências) e Sozinha (Banda Luminar). O disco está disponível no site suamusica.com.
LOIRA MARRENTA
Após repouso por licença-maternidade, a cantora Carlinha Alves, da Loira Marrenta, lança repertório com agenda de shows a partir deste mês. Há três anos solo, a ex-líder da banda Kitara se reinventou para encabeçar o projeto. “A gente quis mudar para não repetir o que ela fazia com a Kitara (2004-2013). Criamos uma nova identidade, com Carla na linha de frente e evidenciamos a percussão, a guitarra e o violão nas músicas”, explica o produtor musical e compositor Elvis Pires. No repertório do CD de verão estão as canções Se mandar um print a casa cai e Da minha mente não sai - a última é versão de Cheap Thrills, da cantora Sia. Nos shows, o grupo mantém bloco com músicas da antiga banda. “Explorei efeitos mecânicos e a segunda voz. O brega ainda é a música que mais toca no Recife”, acredita Elvis.
VALQUÍRIA SANTANA
A recifense de 20 anos estreia projeto sozinha após passar quatro anos na Sedutora. Ela começou a cantar aos 14 anos com passagem por grupos como Kiamo, MC Vertinho e Lipe Play, e se sente pronta para encarar o novo desafio. “Vou permanecer a com a essência do brega, mas quero misturar sonoridades, como o arrocha”. Valquíria lançou o single Amor chorando, de Dan Ventura. Ela produz o primeiro disco solo, com lançamento previsto para maio.
MICHELLE MELO
Artista com título de “rainha do brega pernambucano”, Michelle Melo fez sucesso com a banda Metade e vai lançar novo DVD. O projeto foi gravado durante show na festa Brega Naite, no Catamaran, e é composto por canções inéditas e faixas que fizeram sucesso na voz dela, como Lua de mel, Topo do prazer, Banho de espuma e Baby doll. O DVD contou com participações especiais de John Geração, Fernanda (Boa Toda) e MC Japão. Na carreira solo, Michelle gravou três discos.
2 perguntas
Isa Falcão // cantora
Quais as mudanças no brega ao longo desses anos?
No início, a banda era um passatempo e, hoje, é minha profissão e fonte de renda. Cuido de uma empresa que sustenta 12 pessoas: músicos, cantores, dançarinos e roadies. O brega emprega muita gente, desde os artistas, até o senhor que vende confeito e o vendedor de cerveja na frente das boates.
O que o brega representa para você?
Tenho muito amor pelo brega. Tudo que tenho hoje é graças à música. Acredito que o ritmo não é mais forte por falta de união dos artistas. Estou cantando músicas de outras pessoas e sei de alguns que não gostaram. Precisamos levantar a bandeira uns dos outros. Se a gente se unisse, seria melhor para todos.