PERFIL » Um aficcionado pela animação nas telas

Fernanda Guerra
fernanda.guerra@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 24/06/2017 03:00

O cineasta Ulisses Brandão já era aficionado por animação antes de se imaginar atuando no ramo. Formado em jornalismo, ingressou no curso de cinema e fez do hobby um ofício. “A partir do curso, pensei em investir meu tempo com desenhos. Eu me identifiquei com os artistas e profissionais da área no estado. Tive certeza, então, que estava no lugar certo”, ele diz. A decisão ocorreu em 2011, quando começou a migrar do jornalismo para o cinema.

Atualmente, o diretor, produtor e roteirista recifense, 34, é sócio da produtora Viu Cine e está por trás de séries de animação como Pedrinho e a chuteira da sorte, Zoopedia, Iuri Udi e Além da lenda. A última deve estrear em breve na TV Brasil. De forma lúdica, a série de comédia acompanha a crise existencial das principais lendas do folclore brasileiro a partir do desinteresse das crianças.

A produtora assinou contrato com a distribuidora Elo Company, a mesma de O menino e o mundo, indicada ao Oscar de 2016. A comercialização só ocorrerá, no entanto, após o contrato de exclusividade de seis meses.

Entrevista // Ulisses Brandão

"Tudo é pensado de forma a levar Pernambuco e o Nordeste para o audiovisual”
Ulisses Brandão, cineasta

Como enxerga o mercado do gênero em Pernambuco?
A animação vive um momento de ouro. Com os investimentos públicos e o crescimento da demanda, tanto por parte dos canais a cabo quanto das plataformas VOD, temos diversas produções brasileiros exibidas e produzidas. Pernambuco não ficou de fora do boom. Temos o case de sucesso do Mundo Bita, da Mr Plot, exibida no Discovery Kids e na Netflix. Recentemente, a primeira série 3D, que é Bela criativa, da ZQuatro. Acabamos de lançar nossa segunda série 2D, Além da lenda. Estamos trabalhando agora no curta de animação Adeus, de Marília Feldhues, e na série Pedrinho e a chuteira da sorte, de Alisson Ricardo e Marcos França. São várias produções em Pernambuco, empregando artistas e profissionais em uma consolidação do mercado como nunca antes visto.

Quais as principais dificuldades?
Encontrar profissionais e artistas em número suficiente para atender às novas produções. Temos que “importar” pessoas de outros estados. Fechamos parceria com o Sesc para levar oficinais gratuitas de animação e desenho e encontrarmos talentos fora da região metropolitana.

Durante a criação de uma série de animação, há a preocupação em abordar temas mais universais?
Sim. O tempo todo. Animações têm mais facilidade de “viajar” pelo mundo do que produções como documentário e ficção. Isso faz com que tenhamos mais atenção a temas e abordagens universais, mas, claro, sem esquecer as raízes. Nós temos muito orgulho de sermos pernambucanos e nordestinos. Isso está, inclusive, na missão da empresa. E como a gente faz isso? As histórias que contamos nos filmes e séries são universais, como a amizade, o medo do desconhecido ou a vida em grupo. O que muda é a forma como contá-las. Todos os elementos, como os detalhes dos desenhos ou a voz dos dubladores, remetem a nosso local. Se você observar, as casas da série Além da lenda são de arquitetura comum no Recife. As ruas da cidade da série Iuri Udi (em desenvolvimento) lembram Olinda. Então, no geral, tudo é pensado em forma de levar Pernambuco e o Nordeste para o audiovisual, mesmo que essa presença não seja necessariamente “panfletária”.