Um boleiro empoderado

Publicação: 23/08/2017 03:00

Em As caravanas, a musa da vez é Bia. Não aquela Beatriz “de éter” e “de louça” do clássico composto por ele com Edu Lobo. Essa moça aqui gosta é de moças. E o poeta de olhos azuis está fora, a moça lhe deu um “toco”. “Talvez ela dê risada/ Talvez fique encabulada/ Talvez queira me avisar/ Que no coração de Bia/ Meninos não têm lugar”, canta Chico, lamentando: “Bia não vem me ouvir (...) é da natureza dela/ viver solta por aí”. Ele até admite “virar menina” para namorar essa garota. “Chico trans”? Pode até ser munição para haters, mas é outro golaço do poeta.

Falar em gol, o samba Jogo de bola relembra as “feras da esfera” de outrora, como o húngaro Puskás (melhor jogador da Copa de 54). Enaltece a molecada peladeira, mas não deixa de ser metáfora do futebol como espaço democrático, sobretudo em tempos de ódio e intolerância. Afinal, todo mundo pode - e deve - driblar. Mas sem perder a linha, como canta ele.

Há cantiga, samba-canção, lundu, blues, samba sincopado e bolero, além de ecos de funk carioca e jazz. Chico escala craques nas nove “posições” - Luiz Cláudio Ramos (maestro e produtor do álbum), Cristóvão Bastos e João Rebouças (piano), Marcos Nimrichter (acordeom), Jurim Moreira (bateria), Marcelo Costa (percussão), Hugo Pilger (violoncelo), Guto Wirti (baixo) e Jorge Helder (violão). Na sessão “evoé, jovens artistas”, brilham Chico Brown (guitarra), Clara Buarque (voz) e Rafael Mike (beatbox).

Serviço
Caravanas. De Chico Buarque. Biscoito Fino. Preço sugerido: R$ 34,90