A resistência da Paixão O maior espetáculo bíblico realizado a céu aberto em Pernambuco inicia maratona de apresentações da 51ª edição

Isabelle Barros
isabelle.barros@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 24/03/2018 03:00

Conciliar uma expectativa já consolidada do público com inovações pontuais é o desafio ao qual a Paixão de Cristo de Nova Jerusalém se propõe ano após ano. Em sua 51ª edição, o sonho das famílias Mendonça e Pacheco, que começou com uma humilde encenação dos últimos momentos de Jesus Cristo no distrito de Fazenda Nova, em Brejo da Madre de Deus, ganhou um status de superprodução que movimenta não só a localidade, mas também o mercado teatral do estado. Neste ano, a ação se desenrola deste sábado até o dia 30 de março, domingo de Páscoa.

Em 2018, a maior novidade está no elenco. Após três anos, um ator pernambucano volta a encarnar o protagonista. Renato Góes, que atuou como o apóstolo João durante quatro anos antes de se tornar um dos nomes mais badalados das novelas globais, agora está responsável pelo papel de Jesus Cristo. De volta após oito anos afastado, o artista comemora o retorno ao que chama de família. “Quando fui morar no Rio de Janeiro, há doze anos, comecei a participar da Paixão de Cristo e isso me dava energia para passar o resto do ano lá. É uma produção muito especial para mim e sempre sonhei em voltar. Pouco importa se estou com o personagem principal, pois já conhecia 99% do elenco e todos me receberam muito bem. A expectativa é muito grande para o dia no qual vou subir ao palco e ter essa troca com o público”.

Para Renato, residente no Rio de Janeiro há 12 anos, a oportunidade de encarar um personagem tão emblemático como o de Jesus Cristo é a mais importante de sua vida. “Sou católico, frequento a igreja, sou um cara de fé. Tenho aproximação com essa história minha vida inteira, então minha preparação foi a de, basicamente, ler o texto de Plínio Pacheco e entender sua visão dessa figura. Quis trazer todos os ensinamentos dele e, ao mesmo tempo, deixá-lo mais humano, mais real. Cada um tem a sua ideia de quem é Jesus, e este é um trabalho conjunto. Pego um pouco da ideia de Plínio, guiado pela família Pacheco e pelos diretores Carlos Reis e Lúcio Lombardi para achar uma alma para ele”.

Quem acompanha Góes nos papéis principais são a pernambucana Fabiana Pirro como Maria, além de Kadu Moliterno (Pilatos), Rita Guedes (Madalena), Tonico Pereira (Anás), Victor Fasano (Herodes) e Nicole Bahls (Herodíades). No total, são mais de mil profissionais, divididos entre 450 atores e figurantes e mais 600 profissionais técnicos e de produção, como sonoplastas, eletricistas, contrarregras, maquiadores, cabeleireiros e costureiras. Toda essa força de trabalho ocupa nove palcos-plateia em uma área total de 100 mil metros quadrados, um terço da área da Jerusalém original.

Além da renovação total no elenco principal, o figurino, cenografia e equipamento de som tiveram melhorias do ano passado para cá. O Fórum de Pilatos, o Templo de Jerusalém e o Palácio de Herodes, por exemplo, foram repaginados a partir da técnica de faux finishing painting, executada pelo artista visual colombiano radicado no Brasil Nestor Robles. Paredes lisas ganham textura de pedra envelhecida, imitando mármore travertino.

Já os figurinos de Herodes, Herodíades e Caifás ganharam uma decoração ainda mais rica e até a coroa de espinhos usada por Renato Góes como Jesus foi trocada e adornada com espinhos de juá. “Neste ano, alugamos um equipamento de som totalmente renovado, com a metade do tamanho e qualidade superior. Essa tecnologia não aparece visualmente, mas é percebida quando se assiste à peça”, frisa Robinson Pacheco, coordenador geral do espetáculo e presidente da Sociedade Teatral de Nova Jerusalém.

Mesmo após o espetáculo completar 50 anos, Robinson, um dos filhos de Plínio e Diva Pacheco, hesita em fazer projeções para o futuro da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém. “Focamos ano a ano. O futuro a Deus pertence e, sinceramente, no Brasil, quase nada consegue ultrapassar meio século e isso aconteceu conosco. A família tem a missão de dar continuidade ao espetáculo e nos esforçamos para essa renovação permanente, para a estrutura evoluir tanto no atendimento ao público quanto na parte cênica. Não pensamos, realizamos. Temos um impacto direto em Fazenda Nova ao contratar mão de obra local e impactamos em toda a cadeia produtiva não só da localidade, mas de regiões vizinhas, como Caruaru e Campina Grande”.

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Auto da via dolorosa

Na quarta edição, o espetáculo do Coletivo Ditirambos estreia na segunda-feira, às 19h, com encenação na Igreja de Santa Cruz, no bairro da Boa Vista. São narradas as 15 estações da via sacra, como a crucificação e a ressurreição. A peça é inspirada em texto do dramaturgo francês Henry Ghéon. Na terça, às 19h, a opereta será apresentada na Igreja do Carmo, em Olinda.

Jesus de Nazaré, uma história de amor - Ano 30
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Paixão de Cristo SCFV
O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de Caruaru apresenta, na segunda-feira, às 19h, versão da Paixão de Cristo encenada por mais de 80 crianças e adolescentes, com idades entre 6 e 14 anos. O espetáculo contará com seis cenários montados na Estação Ferroviária do município agrestino.