Retrato da corrupção brasileira na Netflix Criado por José Padilha e Elena Soarez, seriado O mecanismo é inspirado na Operação Lava-Jato

Fernanda Guerra
fernanda.guerra@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 22/03/2018 09:00

Rio de Janeiro - A Operação Lava-Jato não sai do noticiário nacional há alguns anos e, desde 2017, tem ocupado espaço no entretenimento, ao ser tema do filme Polícia Federal - A lei é para todos. A partir de amanhã, chegará à televisão via serviço de streaming. Criada por José Padilha e Elena Soarez, O mecanismo estará disponível no catálogo da Netflix. É livremente inspirada na investigação que se debruçou no esquema de corrupção que envolveu empresas públicas e privadas e políticos, tomando como base o livro Lava Jato: O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil, de Vladimir Netto. Assim como o cenário político atual do país, marcado pela polarização da sociedade, o seriado de oito episódios promete gerar um Fla x Flu entre o público.

Padilha, produtor executivo e diretor do primeiro episódio, não esconde a linha de pensamento político. Para afastar a ideia de ser associado a uma linha ideológica de direita ou de esquerda, decidiu começar a história a partir do escândalo do Banestado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. “A gente não queria cair no risco desse lugar comum de que a Lava Jato está perseguindo a esquerda. Então começamos lá atrás para deixar claro o que a gente acha. Ou seja, só tem bandido, resumindo”, esclarece Padilha, em entrevista a jornalistas do país. “A corrupção não é um evento que acontece aqui, ali, mas é algo que estrutura a política, faz parte da lógica do processo eleitoral. Esse mecanismo (como ele define) não tem ideologia”, defende o diretor. A produção tem um salto temporal de dez anos a partir da deflagração da Operação Lava-Jato.

O mecanismo, portanto, retrata a obsessão do delegado Marco Ruffo, vivido por Selton Mello, em investigar o caso a partir de indícios ou evidências de corrupção cometidos por Roberto Ibrahim, personagem de Enrique Diaz. “O Ibrahim é um personagem dentro de uma narrativa. Eu estou fazendo o Ibrahim. Construí com a base da dramaturgia”, justifica Diaz. O policial é inspirado em Gerson Machado, assim como a policial Verena (Caroline Abras), baseada em Érica Morena. Embora parte do elenco refute comparações com personalidades verídicas, Padilha admite associações, a exemplo do Ibrahim ser o doleiro Alberto Yousseff. “A série começa há dez anos no Banestado, quando Yousseff era o operador. O episódio da mala de dinheiro ocorreu do mesmo jeito”, exemplifica.

No seriado, os personagens não têm os nomes da vida real, mas é quase impossível não associar. O “bordão” do ex-presidente Lula - “Nunca antes na história desse país” - está no texto, e ele é sucedido pela presidenta Janete. Além dos personagens, as instituições também ganharam uma nomenclatura diferente, exemplo: a Petrobrás virou Petrobrasil na adaptação, assim como Polícia Federal e Polícia Federativa. O Viver teve acesso aos três primeiros episódios, que narram o processo de investigação até a prisão de Ibrahim e do diretor da petrolífera, João Pedro Rangel (Leonardo Medeiros). Segundo Padilha, a primeira temporada vai até a prisão dos empreiteiros.

A ideia do seriado surgiu após o livro de Vladimir. Da idealização à conclusão do projeto, foram cerca de oito meses. Entre um fato conhecido, os elementos ficcionais foram inseridos. Selton Mello e Caroline Abras optaram por não conhecer os personagens reais. “Eu quis ficar livre para a criação. Estou crescendo com esse trabalho. A série oferece muitas dúvidas. Estou saindo com dúvidas. E gosto disso”, explica Mello. “Para além de conflitos e escândalos de corrupção, eu queria falar sobre a questão da mulher”, comenta Caroline. Os episódios iniciais misturam as vidas pessoal e profissional de Verena, que se relaciona com o namorado, do Ministério Público, e se desdobra para prender Roberto Ibrahim.

Como todo bom vilão, Ibrahim tem carisma, embora Enrique não o considere um vilão. O doleiro oscila entre momentos afetuosos como pai de família e do cinismo ao longo das negociações ilícitas e das abordagens policiais. Não há a confirmação da segunda temporada, mas tudo indica que se concretize. A série tem episódios dirigidos por Felipe Prado, Marcos Prado e Daniel Rezende.

A repórter viajou a convite da Netflix