NOITE FRIA » Mulheres negras à frente de curta pernambucano

Emannuel Bento
Especial para o Diario
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Publicação: 16/04/2018 03:00

Nenhuma mulher negra dirigiu ou roteirizou um filme no Brasil entre os anos de 2002 e 2014, de acordo com um boletim do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ações Afirmativas da UERJ. Tamanha desigualdade de raça e gênero no audiovisual serviu de motivação para que estudantes do curso de cinema da UFPE se reunissem para produzir o curta-metragem Noite fria, com elenco e produção compostos apenas por mulheres negras.

O projeto foi contemplado pelo Edital de Artes da universidade, que concedeu R$ 5 mil as jovens. Para subsidiar o restante dos investimentos com a produção, as estudantes criaram uma vaquina online, disponível no endereço benfeitoria.com/NoiteFria. O objetivo é arrecadar mais R$ 3,5 mil e as doações podem ser feitas até o dia 25 de abril.

Noite fria acompanha a história de Marta, uma moça negra, de 25 anos, que trabalha como atendente de telemarketing e passa a acompanhar, através dos noticiários televisivos, uma série de assassinatos misteriosos. “No filme, abordamos a questão da violência contra a mulher de forma geral, mas o protagonismo é das mulheres negras. São elas que fazem o filme andar.”, explica Priscila Nascimento, diretora e roteirista do curta.

A estudante pernambucana ressalta a importância de outros filmes que se apoiam na causa negra, a exemplo de O fio - também produzido por alunos da UFPE - e o blockbuster Pantera negra, da Marvel. “Estamos criando nossa própria imagem, com nossas vozes, para sair de um ciclo em que os negros são estigmatizados e invisibilizados nas produções audiovisuais”, diz.

As principais inspirações para o projeto são os filmes do L.A Rebelion, movimento norte-americano do anos 1970 que tornou-se referência no cinema negro mundial. “Eles possuíam uma visão diferente. Um homem branco de classe média dirigindo um filme sobre uma favela é bem diferente de um favelado fazendo um longa com o mesmo tema. Uma pessoa que está contando sobre a própria vivência faz toda a diferença”, explica.