A partir de 1970 e durante cinco anos o diretor Orson Welles começou a trabalhar, apesar da falta de financiamento, para filmar cenas da película constantemente reescrita, sem saber quem interpretaria o papel do diretor Jake Hannaford.

Ele finalmente entregou o personagem principal ao seu amigo John Huston, magnífico em sua interpretação desta caricatura wellesiana. No set, Orson justifica sua reputação como um gênio autoritário e perfeccionista, exaurindo suas tropas. “Era um circo de almas espalhadas”, disse uma colaboradora da época.

Depois que os primeiros problemas de financiamento apareceram durante as filmagens, o filme foi finalmente interrompido em 1979, depois que Medhi Bushehri, cunhado do Xá do Irã envolvido na produção, decidiu bloquear os negativos. Welles salvou parte das centenas de horas e tentou até a sua morte vencer a batalha nos tribunais, sem sucesso.

“Se algo acontecer comigo, prometa-me terminar o filme”, pediu ao cineasta Peter Bogdanovich, que encarnou no filme o personagem de um jovem diretor promissor, o que ele era na época. O ator e diretor também foi o primeiro, após a morte de Welles em 1985, a se aproximar dos detentores dos direitos para tentar acabar com a disputa de herdeiros e terminar o filme para manter sua promessa.

“Este filme é produto de um triste lixo [...] É a conclusão trágica de Cidadão Kane”, disse Orson Welles, envelhecido, deprimido e obeso, quando o filme estava paralisado. The other side of the wind e They’ll love me when i’m dead serão lançados na plataforma Netflix em 2 de novembro. (AFP)