ENTREVISTA » Mariama e Aiace // cantoras

Publicação: 15/11/2018 03:00

Qual a importância de enaltecer a música da cultura afro no mês da consciência negra?
Mariama: A música se comunica e cura, é uma maneira de se conectar, lembrando quem você é, não apenas mentalmente, mas com todo o seu ser. O Brasil tem sua própria história sobre a África e é importante conhecê-la. Aiace: Cantar a nossa música em qualquer espaço e tempo aqui no Brasil já traz, somente pelo ato em si, a força por nossa resistência, já que nosso canto não vem sozinho e cada dia é uma batalha diferente. Cantar no novembro negro reafirma tudo isso, por ser um mês onde as nossas lutas, pautas e heróis são lembrados, onde os nossos espelhos podem ficar mais evidentes e onde nossas forças são renovadas. 

Você consegue diferenciar a música feita na África e a música afro feita no Brasil? 
Mariama: Eu conheço alguns músicos brasileiros e posso identificar os sons do Mali, Senegal e Guiné, mas o Brasil é tão grande, e a África ainda mais, que eu sei muito pouco, eventualmente. É por isso que estou feliz por estar aqui e descobrir mais. 

Quando começou a se interessar por música de terreiro? 
Aiace: Minha família paterna tem muita ligação com as casas de axé, e a música feita em Salvador traz muito da memória africana na sua essência. Não há como pensar a música feita nesse lugar sem enxergar isso. Então, a minha ligação com essas músicas vem desde muito nova graças a esse contato familiar. Quando tive mais idade para caminhar sozinha, comecei a buscar por conta própria pelos cantos entoados, pelos toques que sempre arrepiam e pela necessidade de conhecer mais sobre a minha ancestralidade. 

A música de terreiro ainda sofre preconceito no Brasil? 
Aiace: Infelizmente, sim. Enquanto alimentarmos o mito da democracia racial, negarmos a dívida que temos com o povo negro e validarmos o discurso da meritocracia, toda a identidade do povo negro, não só a música e a religião, continuarão sendo hostilizados.