O brucutu dos mares em ação
Herói da Marvel por vezes retratado de forma um tanto boba, Aquaman surge mais turrão em seu primeiro longa, que estreia hoje
BRENO PESSOA
breno.pessoa@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 13/12/2018 03:00
Durante maior parte da história do personagem, desde sua primeira aparição, em 1941, Aquaman foi considerado um herói de segundo escalão e, não raro, um tanto bobo - fama essa muito atrelada à clássica animação Superamigos (1973-1985), que retratou o rei de Atlântida de forma mais jocosa. Essa imagem, já há muito desfeita nos quadrinhos, é também subvertida no primeiro longa-metragem homônimo do atlante, em cartaz a partir de hoje nos cinemas.
Com Jason Momoa (Game of thrones) no papel do personagem-título, este Aquaman tem um estilo mais turrão, como já visto em Batman vs Superman (2016) e Liga da Justiça (2017), filmes responsáveis por introduzir o personagem. Mas mesmo sendo um brucutu dos mares, esta nova encarnação não deixa de lado as características mais esquisitas (ou ridículas) do personagem nem busca um senso mais elevado de sobriedade, como outras adaptações cinematográficas de quadrinhos da DC Comics que pecaram sobretudo na tentativa de tornar mais dark e adulto todo esse universo de personagens.
Sem a mão pesada de Zack Snyder, diretor e mente criativa por trás da maioria dos filmes que desde Homem de Aço (2013) tentam estabelecer um universo cinematográfico da DC, Aquaman, sob a direção de James Wan (Invocação do mal), segue por outra linha. Mais próximo do que vimos em Mulher-Maravilha (2017), de Patty Jenkins, o novo filme não parece tentar de maneira alguma soar mais adulto ou crível: há cores espalhafatosas, exageros e piadas. Alguns poderão dizer que é uma produção pautada pelo que a Marvel tem feito nos cinemas na última década, embora, passado tanto tempo, talvez já esteja na hora de deixar de lado as comparações entre os títulos das duas gigantes das HQs.
O roteiro tem influência mais direta de uma recente reformulação do personagem encabeçada pelo roteirista Geoff Johns e ilustrada pelo brasileiro Ivan Reis, publicada entre 2011 e 2016, e da fase escrita por Peter David nos anos 1990, a primeira bem-sucedida tentativa nos quadrinhos de tornar Aquaman um herói mais durão e menos ingênuo. Fiel a esses dois períodos e sem pender demais para a sisudez, o filme é, em resumo, uma história de origem. Artur Cury/Aquaman é o filho de Atlanna (Nicole Kidman), a rainha de Atlântida, com o humano Tom Curry (Temuera Morrison), um faroleiro. Para salvar a vida da família, a mãe faz um sacrifício e retorna para o seu reino, deixando os dois para trás.
Superpoderoso, Artur segue a vida como um relutante herói, ajudando aqui e ali humanos e virando uma espécie de lenda urbana. Sem interesse em estreitar os laços com a civilização atlante, ele acaba por entrar no meio de uma ofensiva de seu meio-irmão, o rei Orm (Patrick Wilson), contra o povo da Terra, o que acaba também por virar uma disputa pelo trono de Atlântida.
O que mais chama a atenção no filme é o visual fantástico das cidades submersas e criaturas marinhas. Não há qualquer pudor em tornar a ambientação quase cafona, de tantos excessos nas cores e formas. Rico e divertido, o cenário debaixo da água, onde boa parte da história se desenvolve, às vezes incomoda pela sua inevitável artificialidade, mas não deixa em nenhum momento de ser criativo e grandioso.
A dependência excessiva dos efeitos visuais também torna pouco naturais parte das sequências de ação, ainda que elas sejam em grande medida bem executadas e críveis. Wan, que já mostrou uma ótima mão para sequências de ação em outros filmes, como Velozes & furiosos 7 (2015), entrega cenas competentes e bem coreografadas. Incomoda a pouco inspirada trilha sonora cheia de sintetizadores que parece durante quase todo momento desconjuntada em relação ao que se vê em tela.
Com um ótimo elenco, que conta ainda com Yahya Abdul-Mateen II como o vilão Arraia Negra, e Willem Dafoe como Vulko, uma espécie de tutor atlante para Aquaman, o filme nem sempre dá tempo de tela para desenvolver melhor esses personagens. Amber Heard, a princesa Mera, é quase uma coprotagonista, mas é subaproveitada, servindo em boa parte do tempo como interesse romântico de Artur Cury ou uma simples assistente. E falta química entre o casal, algo que fica visível sobretudo nas falhas tentativas de entregar alguma comicidade em determinadas sequências.
Aquaman se mostra talvez o mais equilibrado filme do universo cinematográfico da DC Comics até aqui, embora nem de longe tenha a potência e relevância de Mulher-Maravilha. Mas é, sim, divertido, charmoso e competente. Além disso, reforça a sensação de que finalmente os heróis da principal concorrente da Marvel estão em um novo momento e têm um futuro promissor pela frente.
Com Jason Momoa (Game of thrones) no papel do personagem-título, este Aquaman tem um estilo mais turrão, como já visto em Batman vs Superman (2016) e Liga da Justiça (2017), filmes responsáveis por introduzir o personagem. Mas mesmo sendo um brucutu dos mares, esta nova encarnação não deixa de lado as características mais esquisitas (ou ridículas) do personagem nem busca um senso mais elevado de sobriedade, como outras adaptações cinematográficas de quadrinhos da DC Comics que pecaram sobretudo na tentativa de tornar mais dark e adulto todo esse universo de personagens.
Sem a mão pesada de Zack Snyder, diretor e mente criativa por trás da maioria dos filmes que desde Homem de Aço (2013) tentam estabelecer um universo cinematográfico da DC, Aquaman, sob a direção de James Wan (Invocação do mal), segue por outra linha. Mais próximo do que vimos em Mulher-Maravilha (2017), de Patty Jenkins, o novo filme não parece tentar de maneira alguma soar mais adulto ou crível: há cores espalhafatosas, exageros e piadas. Alguns poderão dizer que é uma produção pautada pelo que a Marvel tem feito nos cinemas na última década, embora, passado tanto tempo, talvez já esteja na hora de deixar de lado as comparações entre os títulos das duas gigantes das HQs.
O roteiro tem influência mais direta de uma recente reformulação do personagem encabeçada pelo roteirista Geoff Johns e ilustrada pelo brasileiro Ivan Reis, publicada entre 2011 e 2016, e da fase escrita por Peter David nos anos 1990, a primeira bem-sucedida tentativa nos quadrinhos de tornar Aquaman um herói mais durão e menos ingênuo. Fiel a esses dois períodos e sem pender demais para a sisudez, o filme é, em resumo, uma história de origem. Artur Cury/Aquaman é o filho de Atlanna (Nicole Kidman), a rainha de Atlântida, com o humano Tom Curry (Temuera Morrison), um faroleiro. Para salvar a vida da família, a mãe faz um sacrifício e retorna para o seu reino, deixando os dois para trás.
Superpoderoso, Artur segue a vida como um relutante herói, ajudando aqui e ali humanos e virando uma espécie de lenda urbana. Sem interesse em estreitar os laços com a civilização atlante, ele acaba por entrar no meio de uma ofensiva de seu meio-irmão, o rei Orm (Patrick Wilson), contra o povo da Terra, o que acaba também por virar uma disputa pelo trono de Atlântida.
O que mais chama a atenção no filme é o visual fantástico das cidades submersas e criaturas marinhas. Não há qualquer pudor em tornar a ambientação quase cafona, de tantos excessos nas cores e formas. Rico e divertido, o cenário debaixo da água, onde boa parte da história se desenvolve, às vezes incomoda pela sua inevitável artificialidade, mas não deixa em nenhum momento de ser criativo e grandioso.
A dependência excessiva dos efeitos visuais também torna pouco naturais parte das sequências de ação, ainda que elas sejam em grande medida bem executadas e críveis. Wan, que já mostrou uma ótima mão para sequências de ação em outros filmes, como Velozes & furiosos 7 (2015), entrega cenas competentes e bem coreografadas. Incomoda a pouco inspirada trilha sonora cheia de sintetizadores que parece durante quase todo momento desconjuntada em relação ao que se vê em tela.
Com um ótimo elenco, que conta ainda com Yahya Abdul-Mateen II como o vilão Arraia Negra, e Willem Dafoe como Vulko, uma espécie de tutor atlante para Aquaman, o filme nem sempre dá tempo de tela para desenvolver melhor esses personagens. Amber Heard, a princesa Mera, é quase uma coprotagonista, mas é subaproveitada, servindo em boa parte do tempo como interesse romântico de Artur Cury ou uma simples assistente. E falta química entre o casal, algo que fica visível sobretudo nas falhas tentativas de entregar alguma comicidade em determinadas sequências.
Aquaman se mostra talvez o mais equilibrado filme do universo cinematográfico da DC Comics até aqui, embora nem de longe tenha a potência e relevância de Mulher-Maravilha. Mas é, sim, divertido, charmoso e competente. Além disso, reforça a sensação de que finalmente os heróis da principal concorrente da Marvel estão em um novo momento e têm um futuro promissor pela frente.