CANNES » Filme de Tarantino divide opiniões

Publicação: 22/05/2019 03:00

Era uma vez em Hollywood, nono filme de Quentin Tarantino, dividiu opiniões da crítica em sua primeira projeção, ontem, no Festival de Cannes. Antes da exibição, um porta-voz pediu para ninguém dar spoilers. Colheu algumas vaias. A preocupação do criador de Pulp fiction e Kill Bill é com o vazamento do desfecho da trama, ancorada em fatos ocorridos no verão californiano de 1969. Levando em conta os aplausos não muito entusiasmados, talvez não fosse para tanto. Para quem aprecia a sanguinolência da violência estilizada do cineasta, o filme só engata na reta final. Já os fãs das suas frases de efeito de humor duvidoso, do empilhamento de referências pop e do fetiche retrô, esses até são contemplados.

A história gira em torno de Rick Dalton, fictício ator de TV decadente vivido com certo brilho por Leonardo DiCaprio, e seu dublê, Cliff Booth, papel elogiado de Brad Pitt. Eles vivem uma espécie de “bromance” que flutua conforme a carreira do primeiro declina sob as traquitanas de um produtor vivido por um mal-aproveitado Al Pacino.

Ao lado da mansão de Dalton fica o vibrante lar de Sharon Tate (Margot Robbie) e Roman Polanski (Rafal Zawierucha) - aqui, sim, dois personagens da vida real. A comparação entre os habitantes das duas casas diz algo a respeito de um assunto que Tarantino tateia, mas nunca aprofunda, a ascensão da Nova Hollywood. O ano de 1969, quando a trama se passa, sinaliza o auge de grandes transformações no cinema americano. É quando estrelas antigas da indústria, como o caubói John Wayne, e os filmes dos grandes estúdios perdem espaço para a chegada de novos realizadores (Spielberg, Coppola, Lucas e Scorsese...), mais arrojados e mais antenados aos anseios de uma juventude inflamada pela Guerra do Vietnã. No filme, Rick Dalton representa a primeira vertente; Sharon Tate, a segunda.

Aquele também foi o ano no qual o psicopata Charles Manson ordenou que seu séquito de hippies apocalípticos fizesse um derramamento de sangue. Ordenou que entrassem na casa em que Polanski vivia e matassem quem ali encontrassem. O resto é história.