O boom no mercado de HQs Produção em quadrinhos segue caminho inverso no mercado editorial, com crescimento de publicações, autores e público

ANDRÉ SANTA ROSA
andre.rosa@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 14/12/2019 09:00

A crise do mercado editorial agravada nos últimos anos fez muitas publicações impressas repensarem suas formas de circulação. Falando nos livros, segundo o estudo Produção e vendas do setor editorial brasileiro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), 2018 foi o quinto ano seguido de queda no mercado editorial. Apesar do cenário pessimista para os livros, os quadrinhos seguiram caminho inverso, muito a partir da efervescência da produção nacional e da força de eventos como CCXP (Comic Con Experience), que neste ano bateu recorde ao reunir 280 mil pessoas em São Paulo, e a tradicional FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos), em Belo Horizonte.

Mesmo com adversidades, principalmente com as grandes editoras privadas, as publicações independentes nacionais e pernambucanas tiveram bom ano. Em pernambuco, foram lançadas várias HQs, a terceira edição da Plaf (uma das poucas revistas nacionais sobre o tema), especiais de quadrinhos na revista Continente, pernambucanos como Roberta Cirne e Jota Mendes brilhando no cenário nacional, além do lançamento de um novo selo especializado em quadrinhos da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

Mas essa história não é de hoje. Pernambuco já teve uma das grandes revistas especializadas do Brasil, a Ragu, que teve sete edições publicadas entre 2000 e 2007. Além disso, já contou com eventos de grande porte, como o Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco, criado por Lailson de Holanda (ex-quadrinista do Diario), que em 2001 teve a presença do norte-americano Will Eisner, um dos maiores de todos os tempos, responsável por elevar o status dos quadrinhos e dar nome ao “Oscar da nona arte”. Ainda assim, ambos os projetos não tiveram continuidade e infelizmente se dissolveram.

Apesar de viver bom momento, para Paulo Floro, editor da revista Plaf, Pernambuco e o Brasil ainda têm muito o que explorar em sua produção. “O boom das publicações de quadrinhos em 2003 e 2002 tiveram algumas editoras grandes com projetos consistentes, como a Companhia das Letras. Algumas investiram em adaptações literárias como se fosse uma adaptação leve do livro. Nos últimos anos cresceu, muito por causa de um novo entendimento do público em relação ao quadrinho, com diversidade entre gêneros e estilos”, afirmou. “Mesmo em crise, tem muito autor produzindo quadrinho e isso diz respeito aos desejo do público. Tem muita coisa independente, lançada pelo autor ou por financiamento coletivo. Isso tudo é uma resposta da demanda do público, que acredito que não atingiu máximo.”

Um das novas empreitadas locais que já rendeu frutos foi o Selo Cepe de HQs, criado neste ano. A editora já lançou duas publicações locais: O obscuro fichário dos artistas mundanos por Greg, Paulo do Amparo, Clara Moreira e Maurício Castro, com roteiro de Clarice Hoffmann e Abel Alencar, e Polinização por Cavani Rosas e Júlio Cavani. “De uns dez anos para cá, estão tendo muitos investimentos. E isso diz muito sobre um crescimento criativo. Diferente de livro é muito difícil se autopublicar com graphic novel. Então foi aí que a Cepe viu espaço. No nosso estado temos uma tradição muito forte de ilustração e narrativas visuais. Queríamos abrir espaço para essas narrativas gráficas, fomentar essa produção em quadrinhos.”