Publicação: 26/12/2019 09:00
Há muitas razões para pensar que, para Leonardo Padura, 64, sua obra mais importante seja O Homem que amava os cachorros (ed. Boitempo). Afinal, com ela, ganhou projeção internacional, além de ter sido um desafio gigante executado por ele com maestria. Mas para o escritor cubano, seu principal livro não é esse, e sim O Romance de minha vida, lançado em 2002, e agora editado em português, pela mesma editora, com 328 páginas e por R$ 54,00.
“Era uma fase boa da minha vida, em que eu tinha acabado a série policial com o detetive Mario Conde e me sentia aberto para abraçar um projeto completamente diferente, e acabei escolhendo este, uma investigação livre, fictícia, da vida de José Maria Heredia.”
É sobre um poeta, nascido em Cuba, que é considerado um dos primeiros poetas românticos da América e também um dos primeiros escritores cubanos a buscar o exílio, por razões políticas. Era membro da maçonaria, pró-independência e sua produção era marcada pela bandeira da liberdade para Cuba e de um exultante entusiasmo patriótico.
Com isso, teve de se mudar para o México, onde morreu jovem. “Para mim, ele é uma espécie de Lord Byron cubano”, conta. Mas, para capturar sua essência, preferiu adotar um estilo ficcional. Nele, logo vão surgindo semelhanças entre o protagonista, o escritor buscado e o próprio autor, como se houvesse um jogo de espelhos.
A história começa com o retorno de um exilado para as ilhas, Fernando Terry, que tem como desafio encontrar uma obra perdida de Heredia. A busca pelo manuscrito o leva a conhecer seu pensamento durante os tempos da colônia, uma Cuba que Terry não conhecia. Enquanto isso, sua trajetória vai revelando paralelos, histórias em comum a tantos cubanos, ainda que por razões distintas: o exílio, a busca por um ideal artístico e patriótico.
“Eu creio que ele viveu sabendo que sua vida era como um romance, por isso o comparo a Lord Byron, por isso creio que é um dos nossos primeiros românticos, e tenho uma grande admiração”, diz. E acrescenta: “Eu creio que Heredia, por sua atuação na maçonaria, por ter se engajado na independência, pelo modo como desenvolve seus textos, talvez tenha sido o primeiro cubano a ter real consciência de que era cubano.”
Para ele, Heredia inaugura um destino comum a tantos escritores cubanos – dos quais Padura é uma exceção, pois jamais deixou o bairro em que nasceu e cresceu, em Havana – que é a do exílio. “Ele inaugura o exílio político, outros o seguirão, até mais célebres, como José Martí, que virou o grande prócer da independência”, diz Padura. E complementa: “No século 20 vieram então outros tipos de exílio, dos que estavam contra ou simplesmente eram perseguidos pela Revolução aos que buscam vidas melhores. O exílio é uma constante na literatura cubana. Mas o interessante de mergulhar na vida de Heredia é que naquela época essa tradição não existia, ele abriu e trilhou sua própria vida, ou seu próprio romance, como ele gostava de dizer”.
O Romance de minha vida rendeu frutos além do livro. Um fragmento da obra inspirou o filme Regresso a Ítaca, dirigido pelo francês Laurent Cantet, com roteiro escrito por Cantet e Padura. Ele se passa num terraço em Havana, num fim de tarde em que amigos se reúnem para comemorar o retorno de um deles, depois de um exílio. O encontro dura toda a noite, recheada de lembranças de cada personagem e de suas ilusões e desilusões. (Folhapress)
“Era uma fase boa da minha vida, em que eu tinha acabado a série policial com o detetive Mario Conde e me sentia aberto para abraçar um projeto completamente diferente, e acabei escolhendo este, uma investigação livre, fictícia, da vida de José Maria Heredia.”
É sobre um poeta, nascido em Cuba, que é considerado um dos primeiros poetas românticos da América e também um dos primeiros escritores cubanos a buscar o exílio, por razões políticas. Era membro da maçonaria, pró-independência e sua produção era marcada pela bandeira da liberdade para Cuba e de um exultante entusiasmo patriótico.
Com isso, teve de se mudar para o México, onde morreu jovem. “Para mim, ele é uma espécie de Lord Byron cubano”, conta. Mas, para capturar sua essência, preferiu adotar um estilo ficcional. Nele, logo vão surgindo semelhanças entre o protagonista, o escritor buscado e o próprio autor, como se houvesse um jogo de espelhos.
A história começa com o retorno de um exilado para as ilhas, Fernando Terry, que tem como desafio encontrar uma obra perdida de Heredia. A busca pelo manuscrito o leva a conhecer seu pensamento durante os tempos da colônia, uma Cuba que Terry não conhecia. Enquanto isso, sua trajetória vai revelando paralelos, histórias em comum a tantos cubanos, ainda que por razões distintas: o exílio, a busca por um ideal artístico e patriótico.
“Eu creio que ele viveu sabendo que sua vida era como um romance, por isso o comparo a Lord Byron, por isso creio que é um dos nossos primeiros românticos, e tenho uma grande admiração”, diz. E acrescenta: “Eu creio que Heredia, por sua atuação na maçonaria, por ter se engajado na independência, pelo modo como desenvolve seus textos, talvez tenha sido o primeiro cubano a ter real consciência de que era cubano.”
Para ele, Heredia inaugura um destino comum a tantos escritores cubanos – dos quais Padura é uma exceção, pois jamais deixou o bairro em que nasceu e cresceu, em Havana – que é a do exílio. “Ele inaugura o exílio político, outros o seguirão, até mais célebres, como José Martí, que virou o grande prócer da independência”, diz Padura. E complementa: “No século 20 vieram então outros tipos de exílio, dos que estavam contra ou simplesmente eram perseguidos pela Revolução aos que buscam vidas melhores. O exílio é uma constante na literatura cubana. Mas o interessante de mergulhar na vida de Heredia é que naquela época essa tradição não existia, ele abriu e trilhou sua própria vida, ou seu próprio romance, como ele gostava de dizer”.
O Romance de minha vida rendeu frutos além do livro. Um fragmento da obra inspirou o filme Regresso a Ítaca, dirigido pelo francês Laurent Cantet, com roteiro escrito por Cantet e Padura. Ele se passa num terraço em Havana, num fim de tarde em que amigos se reúnem para comemorar o retorno de um deles, depois de um exílio. O encontro dura toda a noite, recheada de lembranças de cada personagem e de suas ilusões e desilusões. (Folhapress)