Moda para dialogar com a mulher livre

Publicação: 22/01/2020 03:00

Em uma sala separada no Mepe, estão retratos de famosos, registros feitos em viagens e ensaios de moda, algo inusitado no imaginário comunista. Essa última linguagem foi produzida como alternativa de sustento. “Como uma pessoa de esquerda, Fischer acreditava que a moda deveria dialogar com uma mulher livre, moderna e inserida. Por isso, esses ensaios são em espaços livres. As modelos eram suas amigas, sequer tinham formação como hoje em dia. Também não existiam maquiadores e estilistas profissionais. Tudo era muito improvisado”, explica Andreas. O lado comunista da Alemanha nunca gostou muito dessas imagens e proibiu algumas.

Em uma das fotos, a modelo posa diante de uma grande construção industrial, revelando o aspecto cinzento e gélico da Alemanha Oriental. O interessante está nessa encenação do imaginário do consumo capitalista no contexto soviético. “Arno nunca quis que essas fotos entrassem nas exposições. Tivemos até uma pequena briga sobre isso, mas consegui convencê-lo”, diz o curador.

A especialidade em moda levou Fischer a conhecer Moscou, um dos centros do poder da URSS. “Ele não via a União Soviética como o império mais malvado do mundo, mas como um lugar com pessoas que amavam, sofriam e tinham seus sentimentos. Isso possibilitou a criação de fotos únicas daquele país”, opina o curador.

Na viagem, Arno soube que Marlene Dietrich, grande atriz e cantora alemã, naturalizada estadunidense, faria show na capital russa. Após tentativas, conseguiu comprar um ingresso, mas tamanha foi o êxtase que ele esqueceu os equipamentos de foto e teve que registrar com uma pequena câmera. “Foi muito difícil realizar aquele show, e ela ficou muito feliz. Era muito importante ter registros seus tendo contato direto com o povo russo. Fischer se esforçou muito para chegar perto do palco e tirar fotos que agradaram muito a cantora”.