Precursor do movimento udigrudi

Publicação: 27/10/2021 03:00

Como se pode ver, a década de 1970 foi de intensa agitação na vida de Lailson, se desdobrando em seu trabalho com o humor, ganhando a vida também com a publicidade e lançando seu nome para o mundo. Mas é preciso falar de uma outra linguagem artística de Lailson que também foi marcante durante o período: a música.

Em 1973, ele se juntou a Lula Côrtes na criação do disco Satwa, um marco da música moderna brasileira e da psicodelia pernambucana, sendo precursor do movimento que ficaria conhecido como udigrudi, que carregaria nomes como Zé Ramalho, Flaviola e a banda Ave Sangria. O disco, hoje uma raridade, foi lançado pela lendária Rozenblit. Na década passada, teve algumas edições em CD e Vinil disponibilizadas pelo selo inglês Mr. Bongo, quando comprou o catálogo da fábrica pernambucana de discos.

Após o lançamento de Satwa, Lailson voltou a juntar forças com dois outros gigantes nomes da música pernambucana, Zé da Flauta e o guitarrista Paulo Rafael, falecido em agosto deste ano, que davam os primeiros passos nas carreiras, definidoras para a música brasileira. Juntos, formaram o grupo Phetus, tocando o que chamavam de “rock barroco”, com apresentações teatralizadas e misturando texturas eletrônicas e acústicas, também embebidos pela energia psicodelica.

“Ele sempre foi um compositor muito criativo. De poesias simples, mas muito fortes”, afirma Zé da Flauta ao Viver. A Phetus chegou a realizar uma reunião em 2011, na Rua da Moeda. Segundo o músico, Lailson continuava ativo em sua faceta musical, levando à frente uma parceria que começa na arte e se estende para a vida afetiva.

“Ultimamente, a gente estava fazendo muitas parcerias no estúdio aqui em casa, compondo, tocando músicas antigas e fazendo músicas novas. Eu fazia uma música e mandava para ele fazer a letra, e vice-versa. Eu também acabei de escrever um livro, e ele que desenhou a capa e escreveu a orelha. Era uma relação de arte e amizade muito grande”, declarou. Zé da Flauta esteve com Lailson há duas semanas, em mais um encontro produtivo e alegre. A morte do amigo o deixou em choque.

Para além da psicodelia setentista, Lailson de Holanda também se empenhava musicalmente no blues. Nos anos 1990, formou as bandas Blusbróders, A Garagem e The Lailson Blues Bands, que seguiu até 2011. Nos últimos anos, continuou a se apresentar dentro do ritmo e também lançou a ópera pop Nassau em 2010, ao lado de Fábio Valois. Segundo familiares, um de seus próximos planos era o relançamento do Satwa.