Cliques que viajam no tempo Fotógrafo de filmes emblemáticos do cinema pernambucano, Victor Jucá também tem seu nome eternizado nos créditos de "O Agente Secreto"

Allan Lopes

Publicação: 07/06/2025 03:00

Registros dos longas-metragens O Agente Secreto, Edificante e Aquarius, pelas lentes de Victor (LÍGIA TIEMI SUMI/DIVULGAÇÃO)
Registros dos longas-metragens O Agente Secreto, Edificante e Aquarius, pelas lentes de Victor

Mesmo antes de sua estreia, marcada para 6 de novembro, O Agente Secreto já habita o imaginário de quem acompanha seu percurso. As premiações em Cannes do diretor Kleber Mendonça Filho e do ator Wagner Moura, além da aclamação da crítica internacional, explicam parte do fenômeno. Mas é pelas lentes de Victor Jucá que o filme ganha sua primeira materialidade. As imagens dele preparam o espectador para um mergulho profundo no universo do longa, ambientado no Recife de 1977.

Não é de hoje que os olhos mais atentos do cinema reconhecem a assinatura visual do fotógrafo. Com presença nas principais produções de Pernambuco dos últimos 15 anos, ele levou para os sets um olhar aguçado, forjado na cobertura de espetáculos, festas populares e eventos esportivos. “Foram experiências com uma abordagem mais documental”, conta, em conversa exclusiva com o Viver. Nesta segunda, no Edifício Texas, ele divide os bastidores dessa jornada no audiovisual na oficina Fotografia de Cena – Still.

Sua trajetória se mistura com a de seu primo, Kleber, que lhe abriu as portas em 2010, nas filmagens de O Som ao Redor. “Aquela oportunidade me ensinou a me comportar no set, a entender o que fazer e o que não fazer”, relembra. “Foi, de fato, a faculdade de cinema que eu não fiz”, reflete. Passando por Aquarius e Bacurau, a parceria entre os dois só fez se aprofundar, até alcançar seu momento mais maduro em O Agente Secreto.

Jucá foi incumbido de transformar sua câmera em uma máquina do tempo, recriando o Recife dos anos 1970 e produzindo os stills, termo em inglês para fotos oficiais que representam visualmente o filme, hoje estampadas em cartazes, redes sociais e matérias internacionais. “É aquela imagem que, sozinha, consegue vender o trabalho ou, pelo menos, despertar curiosidade. E isso não é simples. Você precisa ter domínio do roteiro e entender a fundo o que está fazendo”, explica.

Utilizando câmeras analógicas e filmes revelados à moda antiga, ele fez registros tão imersivos que acabaram integrados ao próprio longa, seja aparecendo nos jornais lidos pelos personagens ou fixados como retratos no cenário. “A foto precisa parecer que está naquele tempo. Tem que combinar com aquele universo”, diz.

A mais reproduzida captura Wagner Moura junto a um orelhão. Curiosamente, ela foi resultado de um ensaio fora das filmagens. “A gente estava gravando uma cena em uma galeria perto do São Luiz. O telefone começou a tocar, Wagner deu risada, largou o copo de café e foi atender. Não perdi tempo e disparei a câmera”, recorda. 

Naquele momento, ele não imaginava que o clique improvisado ganharia o mundo e se tornaria o cartaz de um dos longas mais festejados em Cannes. “Ver um trabalho meu sendo a vitrine de um filme tão incrível como O Agente Secreto é como receber uma coroa depois de tanto esforço”, celebra ele.